Ideia da separação foi retomada no ano passado. No mês
que vem, “sulistas” fazem congresso para comemorar as duas décadas da causa e
ganhar novo fôlego

Celso Deucher, presidente do movimento, com a
bandeira do novo país ao fundo:
30 mil filiados em 800 cidades do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
Separar
os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul de seu grande inimigo:
o Estado brasileiro. Essa é a polêmica luta do movimento “O Sul é o Meu País”,
que completa 20 anos em 2012 com a pretensão de voltar a ganhar a discussão das
ruas. Nos próximos dias 17 e 18 de março, os sulistas que querem a separação do
resto do país fazem um congresso na Assembleia Legislativa de Santa Catarina,
em Florianópolis, para celebrar as duas décadas de existência e ganhar novo
fôlego.
Tratado
com ironia e procurando livrar-se do estigma de ser “racista” em relação à
população de outras regiões do Brasil, o movimento foi retomado no ano passado
após a realização de uma pesquisa que teria indicado um grande apoio popular à
causa separatista nas capitais do Sul.
O atual
presidente do movimento, Celso Deucher, diz que o sonho dos “sulistas” seria a
realização de um plebiscito para a criação do novo país, livre do “imperialismo
centralizador“ e da “terrorismo tributário” da federação brasileira – nas
palavras dele. Participaria da consulta toda a população do Sul do Brasil.
No
caminho do movimento, porém, há uma cláusula pétrea da Constituição Federal que
diz que a República brasileira é “formada pela união indissolúvel” dos estados
e municípios – o que torna inconstitucional qualquer intenção de criar um novo
país.
Assim,
por prudência, os adeptos do movimento evitam falar em separatismo, preferindo
a expressão “autonomia”. Como base legal da luta, explica Deucher, está o
direito à liberdade de expressão e o princípio do Direito internacional da
“autodeterminação dos povos”.
Ele ainda
rebate a acusação de que o movimento é racista. “Isso sempre é usado para nos
desacreditar. É uma besteira. O Sul do Brasil é uma das regiões mais múltiplas,
com presença de várias etnias”, diz Deucher. Ele afirma estar concluindo um
livro sobre a presença negra no Vale do Itajaí, em Santa Catarina – o que seria
uma prova do caráter não racista da causa.
Criado no
Rio Grande do Sul, o movimento se diz herdeiro de outros levantes separatistas
sulinos – como a Revolução Farroupilha, no século 19. Segundo seu
presidente, o movimento tem hoje representação em 800 municípios dos três
estados e cerca de 30 mil filiados. O alto número de simpatizantes, no entanto,
não se traduz em arrecadação financeira. Segundo Deucher, a organização
sobrevive de doações dos 26 diretores e de mensalidades de R$ 15 pagas por
cerca de cem membros.
Críticas
Para o
professor de História Carlos Antunes Filho, da UFPR, as ideias separatistas no
país são apoiadas em bases suspeitas. “É um delírio baseado em segregação
racial e intolerância que destoa da forma coletiva e plural da construção da
nação brasileira”, diz ele. O professor Herbert Toledo Martins, da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, também desacredita a ideia. “Não é um movimento
sério; não tem representatividade política.”
Acostumado
a críticas, Deucher rechaça as acusações de que o movimento é delirante.
“Pode ser um sonho; mas tem muita gente sonhando junto”, diz ele, que é
professor de História numa escola de Brusque (SC), jornalista e marqueteiro
político .
Sonho de independência
Uma nação com seleção e
municípios fortes
Um Estado do tamanho da França, que privilegia os
municípios e tem uma grande seleção de futebol. Esse é o país vislumbrado pelos
separatistas. Segundo o presidente do movimento “O Sul é o Meu País”, Celso
Deucher, a organização não tem legitimidade para fazer conjecturas sobre a nova
nação. A tarefa cabe ao Grupo de Estudos Sul Livre, formado por intelectuais
simpáticos à causa e do qual ele é o secretário-geral.
Até agora, os debates indicam que o Estado sulista
adotaria um modelo descentralizado de poder batizado de “Confederação
Municipalista”. “A vida real acontece nos municípios. Estados e União são
ficções”, diz Deucher.
A principal diferença em relação ao Estado brasileiro
seria a inversão da lógica da arrecadação tributária, diz ele. Os municípios
ficariam com 70% do arrecadado e a Confederação com o restante – apenas para
manter as Forças Armadas e um Parlamento ao estilo sueco, que só se reúne
quando surge a necessidade de convocação. “Não queremos criar uma classe de
burocratas sustentados pelos impostos, como acontece no Brasil”, afirma
Deucher.
Além da questão tributária, outros fatores que motivariam
a separação são o descontentamento com a democracia representativa brasileira e
ausência de autonomia legislativa dos atuais estados brasileiros – que hoje têm
restrições para editar leis.
Deucher também diz que, com o novo país, haveria ainda
uma suposta capacidade maior de reação contra injustiças. De quebra, mesmo sem
ser fã do futebol, ele vislumbra um país com uma ótima seleção. “Muitos dos
melhores jogadores e técnicos do mundo são da nossa região” gaba-se Deucher.
(SM)
Por
Sandro Moser
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