Este é o terceiro foco de tensão entre brasileiros e paraguaios
registrado no departamento de Alto Paraná somente neste ano

Policiais protegem área na região de Itakiry, a 80
quilômetros de Foz do Iguaçu,
que foi invadida por campesinos
paraguaios. Eles colocam armadilhas nas estradas
para ferir os cascos
dos cavalos e furar os pneus de automóveis
Campesinos paraguaios atearam fogo em pelo menos 185 hectares de soja no
distrito de Itakyry, a 80 quilômetros de Foz do Iguaçu. O ataque ocorreu no
início da noite de terça-feira (21), após a polícia paraguaia cumprir uma ordem
de reintegração de posse na propriedade de um brasileiro. Nesta quarta (22),
montados em cavalos, agentes da polícia paraguaia protegiam a área, para evitar
novos conflitos. Este é o terceiro foco de tensão entre brasileiros e
paraguaios registrado no departamento de Alto Paraná, na divisa com o Paraná,
somente neste ano.
A lavoura atingida pertence a três proprietários, dois brasileiros e um
paraguaio. Dos 185 hectares, 65 correspondia a soja pronta para colher. Em
outros 120 hectares, a soja já estava semeada. O prejuízo total está avaliado
em cerca de US$ 100 mil.
O brasileiro Erico Carvalho Lemos, 61 anos, é dono de 30 hectares
queimados. Na terça-feira, a polícia retirou cerca de 80 famílias que estavam
desde janeiro em outra área de 180 hectares pertencente a ele. Irados, após
serem obrigados a deixar o local, os sem-terra queimaram a soja de Lemos e de
mais dois vizinhos.
Há 30 anos no Paraguai, Lemos diz que já passou por problemas com os
sem-terra, mas agora a situação é bem mais tensa. Ele conseguiu na Justiça
autorização para a polícia proteger a propriedade. Só assim é possível ter
tranquilidade. “Eles ameaçam queimar a casa, o barracão e maquinários”, conta o
brasileiro.
Assentamento
Os sem-terra que atearam fogo na soja vivem em um assentamento, vizinho
à propriedade dos brasileiros. Até o final do ano, a convivência era pacífica.
Com o acirramento do conflito no campo, os campesinos começaram a invadir as
propriedades. Para os brasileiros, isso ocorreu por motivos políticos. Eles
dizem que pessoas infiltradas no assentamento incentivam as invasões e o
conflito.
Jair Walker, gerente da propriedade atingida, diz que foi ameaçado de
morte pelos sem-terra. Responsável pelo trabalho na lavoura, ele convive de
perto com os campesinos. Já recebeu ameaças pelo telefone e registrou queixa na
polícia. No entanto, o temor sempre ronda. “É bom viver no Paraguai, mas quando
começa esta pressão você sente vontade de voltar para o Brasil”, diz.
Conflitos
Os conflitos entre campesinos e sem-terra tornaram-se frequentes no
Paraguai nos últimos meses. Outros dois pontos de tensão ficam em Ñacunday,
onde carperos (como são chamados os sem-terra paraguaios) ocupam uma área
próxima à propriedade do brasileiro naturalizado paraguaio Tranquilo Fávero.
Outra área conflituosa fica em Mbaracayú, onde uma ordem judicial impede que 30
famílias de agricultores brasileiros plantem.
Por Denise Paro, enviada especial a Itakyry, Paraguai
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