Justiça
do trabalho determinou a circulação de 70% da frota em horário de pico e 50% em
horário normal, mas nenhum ônibus foi visto nas ruas
Sem ônibus circulando, Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba,
estava vazia na manhã desta quarta-feira
Pelo segundo dia consecutivo Curitiba amanheceu sem
ônibus por conta da greve dos motoristas e cobradores
que trabalham nas empresas do transporte público da capital e região
metropolitana. Assim como ocorreu na terça-feira (14), a quarta-feira (15)
começou com terminais vazios, ruas cheias de carros e radiotáxi com linhas
congestionadas.
Nos terminais do Capão da Imbuia e Guadalupe e na Praça
Rui Barbosa, por exemplo, o movimento de passageiros que aguardavam os ônibus
era baixo por volta das 6h15.

Na Avenida Cândido de Abreu, uma via de grande movimento
de ônibus no centro da capital, não havia nenhum veículo do transporte coletivo
circulando, por volta das 6h30. Todas as estações tubo estavam vazias, e com as
luzes apagadas.
A reportagem da Gazeta do Povo também constatou que
nenhum ônibus circulava nesta manhã pela Avenida Getúlio Vargas, Rua Alferes
Poli, Avenida do Batel, entre outras vias. Também não havia nenhum biarticulado
trafegando pela Avenida República Argentina e as estações tubo estavam vazias.
A reportagem entrou em contato com o Sindicato dos
Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana
(Sindimoc), mas foi informada que não havia nenhum diretor na sede da entidade,
por volta das 7h30. A informação repassada foi de que os responsáveis pelo
sindicato foram para as garagens das empresas de ônibus para dar continuidade
ao movimento grevista. Também não foi possível conseguir contato com o
presidente, o vice-presidente e o secretário de comunicação do Sindimoc, até as
7h40, para comentar o descumprimento da decisão judicial.
Greve continua
Em assembleia nesta terça-feira, os trabalhadores
rejeitaram a proposta feita pelo sindicato patronal durante uma audiência de
conciliação. Apesar da continuidade da paralisação, a Justiça do Trabalho
determinou que parte da frota deverá voltar a circular.
A proposta final apresentada pelo Sindicato das Empresas
de Transporte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Região
Metropolitana (Setransp) é de reajuste salarial de 8% e vale-alimentação de R$
200. Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e
Região Metropolitana (Sindimoc), os trabalhadores esperam aumento salarial de
pelo menos 10,3%.
O desembargador Altino Pedrozo dos Santos, que comandou a
sessão, concedeu a liminar que determina a volta ao trabalho de parte da frota,
conforme requisitado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Com isso, 70%
dos ônibus devem trafegar no horário de pico e 50% no horário normal. O desembargador
ainda fixou multa de R$ 100 mil por dia em caso de descumprimento da decisão. A
Urbs também se comprometeu a entregar as tabelas com os horários e linhas de
ônibus que deverão operar em regime diferenciado na quarta-feira (15).
A liminar concedida pela Justiça Estadual, que determina
um percentual de 80% de veículos nos horários de pico e 60% nos horários
normais, continua valendo, de acordo com a Urbanização de Curitiba (Urbs), que
solicitou a medida. Essa liminar não é reconhecida pelo Sindimoc, que entrou
com um pedido de agravo de instrumento para derrubá-la. Caso o sindicato siga
não cumprindo essa determinação, também deverá pagar multa diária de R$ 100
mil.
Após a assembleia, os trabalhadores construíram a
proposta que vão apresentar em novo encontro no TRT, marcado para as 11h da
quarta-feira (15). Os motoristas e cobradores pedem reajuste salarial de 15% e
R$ 300 de vale-alimentação.
Assim como na terça-feira, o curitibano enfrenta
dificuldade de conseguir contato com as empresas de rádiotáxi da capital. Há
táxis em alguns pontos do centro da cidade, mas em locais mais movimentados -
como na Praça Rui Barbosa e em frente ao Shopping Mueller, há fila de usuários.
Nos locais onde há táxi, a maioria não está vinculada a empresas de radiotáxi.
Na terça-feira, a dificuldade de pegar um táxi durou o
dia todo. O taxista Edson Fernandes, associado de uma das seis radiotáxi da
cidade, disse que à noite eles ainda trabalham para tentar diminuir a fila de
espera por uma corrida, que em alguns casos chegava a várias horas.
As associações não estão agendando corridas por conta da
grande demanda. O dirigente de uma delas disse que não há condições, desde o
início da greve dos ônibus, de garantir o compromisso de pegar um usuário em
determinado horário. A dica dada por alguns taxistas é ligar uma hora antes
para pedir a corrida e tentar negociar que ela chegue no horário.
Os táxis estavam autorizados a circular nas canaletas dos biarticulados, já que a situação do tráfego na capital foi caótica na terça-feira. A autorização foi confirmada por parte da Secretaria Municipal de Trânsito e também pela Urbanização de Curitiba S.A. Cumprindo-se a decisão da Justiça de que ao menos 50% dos ônibus voltem a circular nesta quarta-feira, os táxis e outros veículos não poderão mais circular nas canaletas.
Segundo a Urbs, os usuários do serviço de táxi devem
exigir que os motoristas cobrem o valor mostrado no taxímetro. Não está
autorizada cobrança de outra forma. Se algum taxista estiver cobrando valores
fixos, desconsiderando o taxímetro, o passageiro deve exigir recibo, marcar o
número do táxi e fazer uma denúncia no telefone 156 (da prefeitura de
Curitiba).
A grande procura de táxis nesta terça-feira fez lembrar
que a Câmara de Vereadores da cidade discute um projeto de lei que prevê um
aumento da frota, que hoje é de 2.252 veículos. Segundo a proposta, poderiam
ser autorizadas mais 243 licenças de operação se for estabelecido o critério de
um táxi para cada 700 habitantes da cidade, que, segundo o último dado do IBGE,
tem 1,7 milhão de pessoas. Outra alternativa seria estabelecer o critério de um
táxi para 500 habitantes, o que faria a atual frota aumentar em mais 1.241
veículos, chegando ao total de 3.493 carros.
A falta de ônibus e a dificuldade para conseguir um táxi
causaram reflexos no trânsito de Curitiba. Muitos moradores da capital e da RMC
tiveram de tirar os veículos da garagem para ir ao trabalho ou levar alguém da
família. Por volta das 6h30 desta quarta-feira, também era claro o aumento de
movimento de carros nas ruas.
Na terça-feira, o mau tempo complicou ainda mais a
situação. Houve grande congestionamento nos horários de pico de trânsito e
algumas pessoas levaram uma hora para fazer trechos que normalmente levam 15
minutos.
A ferramenta de
acompanhamento do trânsito em tempo real do Google Maps mostrava movimento
intenso na região central de Curitiba (marcações em vermelho).
O serviço de transporte particular foi autorizado pela
Urbs e funcionará temporariamente. O objetivo é facilitar a locomoção durante a
greve.
Os proprietários de carros particulares podem cobrar até R$ 5 por pessoa. Para poder rodar, é preciso obter a autorização da Urbs. O interessado deve comparecer à Unidade de Vistoria e Cadastro, na sede do órgão, na Rodoferroviária. Os itens obrigatórios do veículo serão inspecionados. No total, 92 veículos já tinham recebido a autorização para o fretamento. Porém, caso os ônibus voltem a circular nesta quarta-feira, conforme decisão judicial, o serviço de transporte particular deve cessar imediatamente.
Os proprietários de carros particulares podem cobrar até R$ 5 por pessoa. Para poder rodar, é preciso obter a autorização da Urbs. O interessado deve comparecer à Unidade de Vistoria e Cadastro, na sede do órgão, na Rodoferroviária. Os itens obrigatórios do veículo serão inspecionados. No total, 92 veículos já tinham recebido a autorização para o fretamento. Porém, caso os ônibus voltem a circular nesta quarta-feira, conforme decisão judicial, o serviço de transporte particular deve cessar imediatamente.
A procura por empresas que oferecem serviços de ônibus e
vans fretadas também cresceu muito nesta terça-feira. Apesar da procura, as
empresas de fretamento não conseguiram atender a demanda, porque já não havia
veículos disponíveis para o serviço.
Como a legislação trabalhista brasileira não contempla
especificamente qual deve ser o procedimento das empresas em caso de greve no
transporte público, cabe às companhias definirem se irão ou não descontar a
ausência ao trabalho do salário do trabalhador. Advogados orientam que o bom
senso deve guiar a decisão.
Vitor Geron, Fernanda
Leitóles, Mariana Scoz, Fernanda Trisotto e Chico Marés | Gazeta do Povo
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