Representantes dos governos federal e estadual
e do setor produtivo traçam estratégias para reanimar a criação de bovinos de
corte

Depois de dez meses tentando reabrir o mercado
russo, o Paraná articula nova investida ante Moscou como forma de reanimar a
produção de carne bovina. Mas, como as inúmeras missões à Rússia não têm
surtido resultado prático, o setor vai, paralelamente, buscar outros destinos
para a carne bovina, seguindo o caminho da avicultura e da suinocultura, que
retomaram o curso de crescimento. A estratégia é negociar com o mercado
asiático, especialmente Japão e China. O plano começou a ser definido ontem em
Curitiba, numa reunião entre representantes dos governos federal e estadual e
do setor produtivo.
A retomada das exportações estaduais é vista como
um fator propulsor à produção local, que ainda é insuficiente inclusive para
atender ao consumo interno. O déficit atual é calculado em 40 mil toneladas por
ano, conforme a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab).
A produção local é de 310 mil toneladas anuais.
O declínio da bovinocultura começou em 2005, quando
o Paraná enfrentou a crise da aftosa e perdeu o status de área livre da doença
sem vacinação, reconquistado três anos depois. Desde 2005, as vendas externas,
que geravam entre US$ 80 milhões e US$ 90 milhões por ano, perderam ritmo. O
golpe de misericórdia veio em junho do ano passado, quando a Rússia, então
principal comprador de carnes do país e do estado, decidiu levantar barreiras à
carne brasileira. Os russos absorviam 13,5% da carne bovina exportada pelo
Paraná, que em 2010 somou 22,2 mil toneladas. Como agravante, três meses depois
da decisão de Moscou, a única planta hábil à exportação restante no estado – a
JBS Friboi – fechou sua unidade de Maringá.
Apesar das investidas do governo federal não terem
surtido efeito até agora, os representantes da cadeia esperam que a retomada do
mercado russo ocorra ainda neste ano. “A tarefa vai exigir muito esforço
técnico e político do Brasil, porque os russos não respeitam normas; mas vamos
conseguir. Eles não têm por que negar a entrada da nossa carne bovina no país”,
afirma Péricles Salazar, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e
Derivados do Paraná (Sindicarne) e da Associação Brasileira de Frigoríficos
(Abrafrigo). “A penalidade foi maior do que merecíamos. O motivo do embargo não
é técnico, mas sim político”, disse Antônio João Prestes, diretor da Progress,
consultoria especializada no mercado russo.
O consenso entre o setor é que a proibição da
entrada das carnes de boi, frango e suínos do Brasil estaria ligada à entrada
da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Nem mesmo o vice-presidente
da República, Michel Temer, conseguiu reverter a posição da Rússia em missões
pelo país. Para Prestes, o Brasil falhou ao deixar de exigir, na OMC, cotas
dos mercados europeu e norte-americano como forma de prevenção às decisões
russas.
Para ganhar maior espaço do mercado externo, o
Paraná precisa fazer uma reforma geral na bovinocultura, que vai da ração
animal à melhoria genética. “Precisamos de volume e qualidade da carne”,
reconheceu o secretário da Agricultura, Norberto Ortigara. Ele acredita que,
mesmo com incentivo do governo estadual, os primeiros resultados práticos da
cadeia serão observados no longo prazo. “Temos hoje um animal relativamente
velho indo para o abate no Paraná. A nossa meta é reduzir a idade média de
abate dos animais de 37 meses para 30 meses nos próximos dez anos.”
Aftosa
Sanidade deve avançar em 2013
Considerada ponto crucial para a conquista de novos
mercados, a suspensão da vacinação contra a aftosa volta a ser o foco do
governo paranaense daqui para frente. A expectativa é de que o estado alcance
status de área livre da aftosa sem vacinação no próximo ano. Para isso, a
Secretaria da Agricultura pretende investir na contratação de 350 novos
servidores, que atuarão na Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), órgão que
deve entrar em funcionamento no mês que vem. “A partir de março, vamos a campo
num projeto ousado, que é o ponto de partida para nos livrarmos da aftosa”,
afirma Norberto Ortigara, secretário da Agricultura.
“Se conseguirmos seguir todos os cronogramas de
atividade daqui para frente, vamos ficar livres da vacinação no ano que vem”,
avalia o superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa) no Paraná, Daniel Gonçalves.
Além da questão sanitária, Ortigara aposta num
plano de desenvolvimento da bovinocultura paranaense. “Vamos focar no pequeno e
médio criador de boi. O objetivo é criarmos lotes padrão. Dificilmente uma
planta [industrial] vai voltar ao estado se não ver que temos uma oferta
regular de animais”, disse, referindo-se ao fechamento do JBS Friboi em
Maringá.
Na avaliação do governante, o estado tem condições
de exportar muito mais carnes, mas antes para isso é preciso investir.
“Dinheiro para crédito tem, mas não excluo a possibilidade de comprarmos kits
para inseminação de animais ou até animais para fazer monta natural. O
governador (Beto Richa) já está consciente desta demanda e está disposto a
colocar recursos na atividade”, complementou.
Por Cassiano Ribeiro | Gazeta do Povo
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