segunda-feira, 26 de março de 2012

Aos 240 anos, Porto Alegre ainda conserva regiões com ares de interior

Cotidiano no Extremo Sul e na Ilha da Pintada têm ritmo diferente.
Lugares afastados do Centro são procurados por quem busca sossego

 Vista Ilha da Pintada (Foto: Márcio Luiz/G1)
Centro de Porto Alegre visto da margem da Ilha da Pintada (Foto: Márcio Luiz/G1)

Aos 240 anos e com quase 1,5 milhão de habitantes, Porto Alegre também tem ares de cidade do interior. Em pleno século XXI, bairros do Extremo Sul da capital gaúcha e as ilhas do Delta do Jacuí apresentam características peculiares, que contrastam com o ritmo do resto da cidade. Com fauna e flora variadas, belas paisagens e muito silêncio, esses locais costumam atrair pessoas em busca de uma vida mais simples e tranquila, mas a poucos minutos da praticidade e do conforto da metrópole. A capital completa nesta segunda-feira 240 anos.

A crescente demanda por imóveis em locais afastados da região central já foi percebida pelo mercado imobiliário. Com os principais bairros praticamente saturados, sem espaço para crescimento, as construtoras voltaram seus olhos para outras regiões. A cada ano, inúmeros empreendimentos como condomínios horizontais e pequenos bairros planejados são lançados em Porto Alegre. Todos com a promessa de oferecer qualidade de vida e boa infraestrutura. Os interessados têm expectativas em comum: “Há um bom público vindo para a região sul, procurando mais sossego. Aos poucos, as pessoas estão percebendo que as distâncias são facilmente superadas quando existe qualidade de vida”, diz o corretor Flávio Silveira, proprietário de uma imobiliária especializada na Zona Sul.

Extremo sul oferece ambiente rural da vida campeira
Formado pelos bairros Belém Novo, Chapéu do Sol, Lageado, Lami e Ponta Grossa, o extremo sul da capital gaúcha tem a segunda menor densidade demográfica da cidade. Em uma área de 116,01 km² vivem 34.873 habitantes, segundo dados do Censo 2010. Apenas 30 quilômetros separam o Centro do Lami, o bairro mais ao sul. Mas para quem passa pelas estradas Costa Gama e Otaviano José Pinto rumo ao limite com o município de Viamão, a distância parece ser muito maior.

Aos poucos, o barulho e o ir e vir de pessoas e veículos vão dando lugar ao silêncio e à tranquilidade. Em vez de carros, muitos moradores da região usam cavalos e charretes como meio de transporte. É nesse cenário quase bucólico que vive a família do casal Ronildo Condota da Silva, 45 anos, e Liziane Fornazali, 37. Com a ajuda dos filhos, eles administram uma pequena propriedade rural, onde cultivam hortifrutigranjeiros e criam animais.

Há dois anos, a família arrenda os 48 hectares de terra do proprietário, morador do Centro. Como pagamento, entregam 20% de tudo o que arrecadam. A principal fonte de sustento dos produtores vem do comércio de grama. “Há algumas semanas conseguimos fazer uma bela venda para um shopping”, explica Álvaro, o filho mais velho. Anderson é o irmão do meio e Kauã, o caçula. A única filha do casal, Luana, foi morar com o marido.

 Chacára Lami (Foto: Jessica Mello/G1)
Ronilzo e Liziane com um dos filhos (E). Ao centro, pequena produtora alimenta as galinhas.
 Propriedade também tem animais como vacas, patos, gansos, porcos e ovelha (D)
 (Fotos: Jessica Mello/G1)

Na Ilha da Pintada, moradores têm ilusão de praia
O bairro Arquipélago situa-se no outro ponto extremo de Porto Alegre. Com 8.330 moradores, tem a menor densidade demográfica da cidade, de 188,46 habitantes por km². É formado por 16 ilhas do Delta do Jacuí, algumas delas acessíveis apenas por embarcações. A Ilha da Pintada é a mais povoada e possui ligação rodoviária com o Centro. Ao longo da travessia pelas pontes do Guaíba, encontram-se clubes náuticos, algumas mansões cercadas por muros altos voltadas para a água e casebres de madeira suspensos na margem. As diferenças são grandes.

Fundada por imigrantes açorianos, a ilha era habitada basicamente por pescadores. A partir do final da década de 1950, com a construção das pontes, passou a receber famílias marginalizadas pelo êxodo rural e também moradores de média e alta renda. Nos últimos anos, cresceu o número de residências de alto padrão na faixa de orla, muitas delas irregulares. Algumas são casas de veraneio e lazer para famílias de alto poder aquisitivo e outras são habitadas durante o ano inteiro. A maioria das casas, no entanto, são construções simples de pessoas que buscam tranquilidade sem abrir mão das regalias da cidade.

À margem da ilha, avista-se Porto Alegre de outro ângulo. Apenas alguns quilômetros separam as centenas de prédios do Centro das casas dos moradores locais, mas aqui o tempo parece correr em outro compasso. Pela proximidade das águas do Guaíba, o ambiente dos ilhéus lembra o litoral. Foi em busca dessa calmaria que Adi Batista Osório, de 62 anos, decidiu trocar o bem localizado apartamento no bairro Petrópolis por uma casa alugada na Ilha da Pintada há dois meses. E não se arrependeu.

 Personagens Ilha da Pintada (Foto: Márcio Luiz/G1)
Adi Osório (acima, à esquerda) mudou-se para a Ilha da Pintada há dois meses. Darci, Juarez e Antônio Paulo batem papo sentados à sombra (acima, à direita), enquanto Paulo Roberto se livra do estresse do dia-a-dia pescando em frente a Colônia de Pescadores (abaixo) (Fotos: Márcio Luiz/G1)





Por Márcio Luiz

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