Consumo nas cidades puxa para baixo a área plantada com os dois
grãos no Brasil. Paraná, maior produtor nacional de feijão, se prepara para
retirar produção total 20% menor das lavouras
Redução na produção nacional tem feito o consumidor
pagar até 46% mais pelo feijão carioca,
tipo mais procurado nos
mercados. De R$ 1,90, o quilo passou para R$ 5 nos últimos quatro meses
A mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros vem impactando
diretamente as decisões dos produtores rurais no campo. A dupla mais famosa do
cardápio nacional – o feijão e o arroz – sente ano a ano os efeitos dessas
transformações alimentares da população.
Embora o consumo total de feijão e arroz esteja aumentando em virtude do
crescimento do número de habitantes, a média per capita anual vem caindo,
segundo dados oficiais. Enquanto na década de 1960 uma pessoa consumia, em
média, 25 quilos de feijão por ano, atualmente essa média é de 17,2 quilos por
pessoa, conforme último levantamento realizado pela Embrapa Arroz e Feijão.
A troca do combinado que já esteve muito mais presente na mesa dos
brasileiros pressionou a área cultivada com os dois produtos nos últimos anos.
No caso do feijão, a redução, tanto da área total como da produção, deve ser
de 5%. De 4 milhões de hectares cultivados no Brasil durante o ciclo 2010/11,
somente 3,8 milhões de hectares voltaram a receber as sementes de feijão em
2011/12.
O Paraná, maior produtor nacional do grão, reduziu ainda mais suas
apostas, 15% no último ano, de 522 mil hectares para 444 mil hectares. Além
disso, a seca que atingiu a principal colheita de feijão do estado, deve
pressionar em 20% a produção final paranaense, que deve alcançar 653 mil
toneladas, contra 821 mil colhidos em 2010/11, conforme a Conab.
Apesar da ligeira recuperação do consumo per capita na década de 1990, o
produto pode sofrer novas pressões daqui para frente. “Com o aumento do poder
aquisitivo, a tendência é que haja crescimento no consumo de carnes em
detrimento do feijão”, afirma Alcido Wander, supervisor de transferência de
tecnologia da Embrapa Arroz e Feijão. “Além disso, a mudança dos hábitos
alimentares das novas gerações, exposta a um leque muito amplo de alimentos
industrializados e fast food, deve comprometer a queda no consumo tanto de
arroz como de feijão”, acrescenta ele.

Há 20 anos produtor Eduardo Medeiros, de Castro,
destina os mesmos 200 hectares para o plantio de feijão
A hora da aposta
No campo, a demanda, que por sua vez, guia os preços, é que define as
apostas dos produtores na hora do plantio, explica o analista de mercado
Marcelo Lüders, da Correpar. Ele lembra que em agosto do ano passado –
período de plantio da safra de verão – o preço da saca de feijão carioca no
Paraná era de R$ 80. Diante do preço, considerado baixo, e dos riscos
climáticos, boa parte dos produtores acabou optando por reduzir a área e
apostar em culturas mais rentáveis, como o milho e a soja.
Este é o caso de Jesse Ricardo Prestes, produtor de Castro, nos Campos
Gerais. Ele reduziu de 30% para 20% a área destinada ao cultivo do feijão na
última safra. Menos sensível às variações climáticas, a soja foi à cultura
escolhida para ocupar o espaço vago na lavoura, já que o preço do feijão era
desfavorável. “O feijão vale mais no mercado, mas também oferece mais riscos.
Depois de três anos de prejuízo é natural que o produtor comece a buscar
alternativas”, afirma ele. Mesmo com a redução da área e a produtividade
comprometida pela estiagem, o produtor espera colher 10 mil sacas de feijão na
segunda safra, que começou a ser colhida agora no Paraná. Como houve queda na
produção, Prestes acredita que vai se beneficiar dos bons preços do produto no
mercado interno.
Hoje, uma saca do feijão carioca vale, em média, R$ 190.
Quebra de safra no Sul eleva preços até maio
A escassez de feijão no mercado, provocada pela quebra de safra no Sul
do país, especialmente no Paraná e Rio Grande do Sul, está fazendo com que os
consumidores paguem mais pelo quilo do produto nas gôndulas. O quilo do tipo
mais consumido no país, o carioca, subiu 46% em quatro meses, saltando de R$
1,90 para R$ 5, segundo dados da Correpar.
Já o feijão preto foi o que registrou a maior alta de janeiro para
fevereiro, 14,4% conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de
fevereiro, medido pelo IBGE. O aumento foi o maior registrado na categoria
alimentos, que inclui carnes, vegetais, grãos, café e açúcar. Segundo o
analista de mercado da Correpar Marcelo Lüders, os preços do feijão devem
continuar altos até maio, quando começa chegar ao mercado a segunda safra, que
foi plantada em janeiro.
Produtor aproveita
Para os produtores, por outro lado, o momento é favorável. No Paraná, a
redução de quatro mil hectares na área de cultivo e queda de 20,5% na produção
fez o preço da saca de feijão carioca saltar de R$ 95 em novembro de 2011 para
R$ 190 em fevereiro. Quem arriscou e manteve a mesma área de plantio do grão,
está conseguindo recuperar parte das perdas dos últimos três anos. O produtor
Eduardo Medeiros, de Castro, nos Campos Gerais, é um deles. Ao contrário da
maioria, Medeiros mantém em 200 hectares a área que utiliza para o plantio do
grão há 20 anos. Como estratégia para minimizar as perdas climáticas ele
passou a escalonar a safra, fazendo o plantio em outubro, novembro, dezembro e
janeiro.
Apesar da quebra, ele estima colher oito mil sacas até o final de abril.
“Plantar feijão é como jogar pôquer, você não pode abandonar a mesa no meio
do jogo”, diz ele, referindo-se aos altos e baixos de quem trabalha com a
cultura.
Por Cíntia Junges

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