"O Príncipe
do Deserto" parece ter sido feito especialmente para aquele público que
sentia falta daquilo que outrora se chamava de "filmão". Seguindo nas
claras pegadas de "Lawrence da Arábia" (1962), espalhando grãos de
areia por toda a trama, o longa do francês Jean-Jacques Annaud ("O Nome da
Rosa"), no entanto, não se aventura na questão do choque de culturas e
interesses entre os ocidentais e os árabes.
Toca de leve na
questão - especialmente quando o assunto é petróleo -, mas não se aprofunda e
nem dialoga com o presente (a ação se passa no começo do século passado).
Em sua obra,
Annaud busca a relação entre o tempo e o espaço. Assim, já visitou a
pré-história ("A Guerra do Fogo"), a Idade Média ("O Nome da
Rosa"), a Segunda Guerra Mundial ("Círculo do Fogo").
Neste novo
filme, uma coprodução entre a França e o Catar, filmada nesse país e na
Tunísia, o deserto do título ganha quase a força de um personagem na história
do príncipe Auda (Tahar Rahim, de "O Profeta"). O ambiente pode ser
aliado ou o maior inimigo na história do rapaz, dividido entre dois mundos.
Quando pequeno,
ele e seu irmão foram entregues ao Emir Nassib (Antonio Banderas), como
garantia de um acordo de paz numa guerra perdida por seu pai, o Sultão Amar
(Mark Strong). Anos mais tarde, quando um grupo de texanos chega para explorar
o petróleo nas terras de Nassib, surge uma disputa entre os dois 'pais' de
Auda. Para tentar amenizar a rixa, ele se casa com a filha de Nassib, Leyla
(Freida Pinto), por quem já era apaixonado.
Mas Amar quer
vingar a morte de seu filho preferido, irmão de Auda, pelas ordens de Nassib.
Então, o jovem príncipe é enviado ao seu pai verdadeiro como mensageiro da paz.
Mas o plano não funciona. Desse ponto em diante, a trama, assinada por três
roteiristas - inclusive o diretor - e baseada num romance de Hans Ruesch,
concentra-se em batalhas que acontecem durante a travessia de Auda e seu grupo
pelo deserto.
O motivo para
tal travessia vai se diluindo ao longo do caminho, enfatizando-se o lado
romântico de "O Príncipe do Deserto". Ou seja, trata-se apenas de
Auda tentando retornar para sua Leyla.
Revelado em
"O Profeta", Tahar Rahim vive um tipo bem diferente daquele gângster
que interpretou no filme francês. Seu personagem começa com a cara enfiada em
livros, um romântico apaixonado, e o filme acompanha seu amadurecimento como
líder político.
A presença do
ator justifica o filme. Ao seu lado, o alívio cômico fica por conta de Ali (Riz
Ahmed) meio-irmão de Auda, renegado pelo pai, que exerce a medicina e sai pelo
deserto com o irmão e seu exército.
Os texanos
exploradores de petróleo são vistos, durante boa parte do filme, como mocinhos.
Quando a presença deles muda de figura, eles não são demonizados. O filme não
quer se arriscar muito sobre essa e outras questões polêmicas. Até porque
Annaud não se dá ao trabalho de projetar qualquer eco que o passado possa ter
no presente.
Por Alysson
Oliveira
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