Lagos ocupam menos de um terço da capacidade. Acionamento
de térmicas para garantir abastecimento pesará no bolso do consumidor
A estiagem na Região Sul deixou os reservatórios do Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul no nível mais baixo para esta época do ano desde pelo menos
2002, ano em que teve início a atual série histórica. A média de água
armazenada na última terça-feira era de 31,8% da capacidade máxima, segundo o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No mesmo período do ano passado, o
índice estava próximo a 93,5%. A condição contrasta com reservatórios das
demais regiões brasileiras, que ocupam no mínimo 78% da capacidade.
No Paraná, a situação é crítica no Rio Iguaçu. Os
reservatórios das cinco usinas situadas ao longo do rio armazenam 35% do volume
máximo de água. O maior dos cinco reservatórios do Iguaçu, o da usina de Foz do
Areia – a maior da Companhia Paranaense de Energia (Copel) – opera com somente
23% de sua capacidade.
Para compensar a falta de chuva no Sul e garantir o
equilíbrio do sistema elétrico brasileiro, o governo colocou algumas
termelétricas em funcionamento, incluindo a Usina Elétrica a Gás (UEG)
Araucária, administrada pela Copel, acionada na semana passada. A UEG gera hoje
cerca de 480 megawatts (MW) médios, o equivalente a quase toda sua potência,
que é de 490 MW.
Pelo menos 28 usinas termelétricas de um total de 65
existentes no país estão operando, segundo os boletins do ONS. Movidas a gás
natural, óleo combustível, carvão ou outros combustíveis fósseis, algumas delas
são acionadas apenas em caráter excepcional: funcionam como um “seguro” para
não faltar energia ao consumidor. No entanto, apesar de a estratégia funcionar
como garantia contra a falta de energia, em médio e longo prazo seus custos do
acionamento das témicas são absorvidos pelo consumidor – eles serão repassados
às tarifas no ano que vem.
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), Nivalde José de Castro,
aprova a medida tomada pelo governo, apesar de reconhecer que o consumidor vai
pagar a conta do acionamento das termelétricas emergenciais.
Não há cálculos para mensurar o impacto das termelétricas
no bolso do cidadão, mas, para o professor, isso não é preocupante porque o
custo é dividido por todos os consumidores do país. “O acionamento de
termelétricas é natural, principalmente nesta época do ano, quando os
reservatórios da Região Sul estão baixos”, diz.
Para Castro, o sistema elétrico hoje tem uma boa
estrutura. As termelétricas, diz, são acionadas justamente para evitar a falta
de água nos meses seguintes. “Funciona como um seguro para que não tenhamos
problemas pela frente”, afirma.
Mas essa avaliação não é consensual. O diretor da consultoria
Enercons, Ivo Pugnanoli, critica a manobra do ONS. Para ele, o país não precisa
recorrer às termelétricas porque a energia que falta no sistema pode vir de
outros reservatórios, uma vez que “a seca nunca atinge o Brasil inteiro”. “Há
uma ‘apagãofobia’. Em 2006, quando houve seca, a energia foi gerada em
hidrelétricas de outras regiões”, diz.
Pugnanoli também diz que o governo faz uma “maquiagem”
para o valor não ser notado pelo consumidor. Na conta de energia, diz, em vez
de o custo ser computado na rubrica “geração”, é colocado no campo “encargos e
serviços do sistema”.
Situação de Itaipu é confortável
No Paraná, o quadro de seca dos reservatórios situados ao
longo do Rio Iguaçu contrasta com o desempenho da segunda maior hidrelétrica do
mundo em capacidade instalada, a Itaipu. A usina, localizada no Rio Paraná, que
é “abastecido” pelas chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, opera
normalmente: nos primeiros três meses deste ano, até registrou aumento de
geração em relação ao mesmo período do ano passado.
Entre janeiro e março de 2011, a usina gerou 23 milhões
de megawatts-hora (MWh). Neste primeiro trimestre, foram 24,7 milhões de MWh,
geração suficiente para abastecer o Paraná por um ano ou Curitiba por cinco
anos.
A perspectiva do diretor-geral da Itaipu Binacional,
Jorge Samek, é de que o volume de geração de energia este ano ultrapasse a
marca histórica de 2008, ano em que a usina produziu 94,6 milhões de MWh.
O índice favorável na geração de energia da Itaipu se
deve ao bom desempenho dos reservatórios da Região Sudeste no início deste ano,
em razão do regime de chuva. Isso fez o lago de Itaipu manter o nível normal e
armazer água.
Vertendo água
O desempenho da usina se reflete nas operações do
vertedouro. Na semana passada, nos dias 5 e 6 de abril, o vertedouro chegou a
ser aberto. No dia 5, o total de água vertida atingiu 1.172 metros cúbicos por
segundo, acima da quantia de 919 metros cúbicos por segundo do dia 6. Em 2011,
a Itaipu atendeu 17% do consumo no Brasil e 73% do paraguaio. A capacidade
instalada da usina é de 14 mil MW. (DP, com Folhapress)
Por Denise Paro
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