quinta-feira, 12 de abril de 2012

Seca reduz reservatórios das usinas do Sul ao menor nível em dez anos

Lagos ocupam menos de um terço da capacidade. Acionamento de térmicas para garantir abastecimento pesará no bolso do consumidor

Christian Rizzi/ Gazeta do Povo / Enquanto as usinas do Iguaçu sofrem com a seca, Itaipu chegou a verter água neste mês


A estiagem na Região Sul deixou os reservatórios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul no nível mais baixo para esta época do ano desde pelo menos 2002, ano em que teve início a atual série histórica. A média de água armazenada na última terça-feira era de 31,8% da capacidade máxima, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No mesmo período do ano passado, o índice estava próximo a 93,5%. A condição contrasta com reservatórios das demais regiões brasileiras, que ocupam no mínimo 78% da capacidade.

No Paraná, a situação é crítica no Rio Iguaçu. Os reservatórios das cinco usinas situadas ao longo do rio armazenam 35% do volume máximo de água. O maior dos cinco reservatórios do Iguaçu, o da usina de Foz do Areia – a maior da Companhia Paranaense de Energia (Copel) – opera com somente 23% de sua capacidade.

Para compensar a falta de chuva no Sul e garantir o equilíbrio do sistema elétrico brasileiro, o governo colocou algumas termelétricas em funcionamento, incluindo a Usina Elétrica a Gás (UEG) Araucária, administrada pela Copel, acionada na semana passada. A UEG gera hoje cerca de 480 megawatts (MW) médios, o equivalente a quase toda sua potência, que é de 490 MW.

Pelo menos 28 usinas termelétricas de um total de 65 existentes no país estão operando, segundo os boletins do ONS. Movidas a gás natural, óleo combustível, carvão ou outros combustíveis fósseis, algumas delas são acionadas apenas em caráter excepcional: funcionam como um “seguro” para não faltar energia ao consumidor. No entanto, apesar de a estratégia funcionar como garantia contra a falta de energia, em médio e longo prazo seus custos do acionamento das témicas são absorvidos pelo consumidor – eles serão repassados às tarifas no ano que vem.

O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ), Nivalde José de Castro, aprova a medida tomada pelo governo, apesar de reconhecer que o consumidor vai pagar a conta do acionamento das termelétricas emergenciais.

Não há cálculos para mensurar o impacto das termelétricas no bolso do cidadão, mas, para o professor, isso não é preocupante porque o custo é dividido por todos os consumidores do país. “O acionamento de termelétricas é natural, principalmente nesta época do ano, quando os reservatórios da Região Sul estão baixos”, diz.

Para Castro, o sistema elétrico hoje tem uma boa estrutura. As termelétricas, diz, são acionadas justamente para evitar a falta de água nos meses seguintes. “Funciona como um seguro para que não tenhamos problemas pela frente”, afirma. 

Mas essa avaliação não é consensual. O diretor da con­­sultoria Enercons, Ivo Pugnanoli, critica a manobra do ONS. Para ele, o país não precisa recorrer às termelétricas porque a energia que falta no sistema pode vir de outros reservatórios, uma vez que “a seca nunca atinge o Brasil inteiro”. “Há uma ‘apagãofobia’. Em 2006, quando houve seca, a energia foi gerada em hidrelétricas de outras regiões”, diz.

Pugnanoli também diz que o governo faz uma “maquiagem” para o valor não ser notado pelo consumidor. Na conta de energia, diz, em vez de o custo ser computado na rubrica “geração”, é colocado no campo “encargos e serviços do sistema”.

Situação de Itaipu é confortável
No Paraná, o quadro de seca dos reservatórios situados ao longo do Rio Iguaçu contrasta com o desempenho da segunda maior hidrelétrica do mundo em capacidade instalada, a Itaipu. A usina, localizada no Rio Paraná, que é “abastecido” pelas chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, opera normalmente: nos primeiros três meses deste ano, até registrou aumento de geração em relação ao mesmo período do ano passado.

Entre janeiro e março de 2011, a usina gerou 23 milhões de megawatts-hora (MWh). Neste primeiro trimestre, foram 24,7 milhões de MWh, geração suficiente para abastecer o Paraná por um ano ou Curitiba por cinco anos.

A perspectiva do diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Samek, é de que o volume de geração de energia este ano ultrapasse a marca histórica de 2008, ano em que a usina produziu 94,6 milhões de MWh.

O índice favorável na geração de energia da Itaipu se deve ao bom desempenho dos reservatórios da Região Sudeste no início deste ano, em razão do regime de chuva. Isso fez o lago de Itaipu manter o nível normal e armazer água.

Vertendo água
O desempenho da usina se reflete nas operações do vertedouro. Na semana passada, nos dias 5 e 6 de abril, o vertedouro chegou a ser aberto. No dia 5, o total de água vertida atingiu 1.172 metros cúbicos por segundo, acima da quantia de 919 metros cúbicos por segundo do dia 6. Em 2011, a Itaipu atendeu 17% do consumo no Brasil e 73% do paraguaio. A capacidade instalada da usina é de 14 mil MW. (DP, com Folhapress)




Por Denise Paro

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