Famílias que adquiriram moradias populares por meio de programas
de habitação encontram problemas estruturais nas residências
Elisangela Gonçalves: estrutura de metal de uma das portas está
totalmente danificada
Uma porta que não fecha, o banheiro que alaga, vazamentos espalhados pela rede
hidráulica, rachaduras que começam a surgir nas paredes ou no piso. De repente,
o sonho da casa própria já não é mais tão belo quanto se mostrava quando o
proprietário recebeu as chaves em mãos. Esse despertar frustrante tem feito
parte da vida de muitas famílias que adquiriram casas populares recentemente no
Paraná. Pouco tempo depois de chegarem às novas moradias, seus habitantes se
depararam com uma série de problemas estruturais, alguns solucionados por conta
própria, outros ainda à espera
de algum tipo de intervenção.
No início de abril, dezenas de famílias se mudaram para o Conjunto
Moradias Boa Esperança 1, no bairro Tatuquara, em Curitiba. Com mais de 200
unidades, o empreendimento da Companhia de Habitação Popular de Curitiba
(Cohab) recebeu investimentos de R$ 8 milhões do governo federal para abrigar
famílias removidas de áreas de risco e ocupações irregulares. Uma delas é a da
dona de casa Jusselei dos Santos Corrêa, que encontrou o imóvel com rachaduras
e problemas no banheiro. “Quando alguém vai tomar banho, ao invés de ir para o
ralo, a água escorre para a sala”, relata.
Na residência de Paulo de Melo, é impossível trancar as portas dos
quartos porque elas vieram sem as chaves. Já os bocais para lâmpadas tiveram de
ser providenciados pelo próprio morador. A situação mais grave, porém, é na
casa ao lado, onde mora sua mãe. Em função do desnível, a porta do banheiro não
fecha. “Como eles entregam uma casa desse jeito?”, questiona indignado.
Situações que se repetem no conjunto Moradias Jandaia, no bairro
Ganchinho, também construído pela Cohab. “Aqui se você tentar colocar um prego
na parede, ela cai.”, ironiza a vendedora Elisangela Gonçalves, que mora no
imóvel há cerca de um ano. A estrutura de uma das portas está totalmente
descolada da parede e parte do forro do teto caiu. No banheiro, foi necessário
furar a parede para sustentar a caixa de descarga com um arame. As portas não
fecham e a estrutura de metal de uma delas está danificada.
A vizinha de frente, Vera Tomás de Oliveira, sofre com a descarga
do banheiro. “A água vaza, molha o vaso e o chão. Isso quando a descarga
funciona”, conta. No imóvel dela também há problemas com portas desniveladas e
rachaduras. Já a moradia da servente Sueli Ferreira foi construída em nível
mais baixo em relação à rua. Assim, qualquer chuva que ameace cair já é motivo
de preocupação, já que facilmente o terreno se transforma em uma verdadeira
caixa d’água.
Inaugurado em dezembro do ano passado, o Residencial Jardim
Europa, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, também já
coleciona reclamações de moradores. Recentemente, uma rachadura apareceu na
fachada da casa de Natália Pinheiro da Silva, que já teme pelo comprometimento
da porta. “Um pedaço da estrutura da porta já está se soltando. Meu medo é que
daqui a pouco eu não consiga mais fechá-la.”
Já Donaia Aparecida da Costa conta ter recebido o imóvel com
buracos no piso e defeitos nos cantos das paredes. Mas a preocupação maior está
nos fundos, onde a ausência de um muro de arrimo faz com que parte do terreno
esteja cedendo. “A cada chuva cede mais um pouco, logo chega na minha casa”,
diz a moradora, apontando para o barranco a poucos metros da sua parede.
Outro lado
Cohab, Cohapar e Caixa Econômica asseguram reparos nas residencias
Por meio de suas assessorias de comunicação, tanto a Companhia de
Habitação Popular de Curitiba (Cohab) quanto a Companhia de Habitação do Paraná
(Cohapar) garantiram que estão à disposição dos moradores para receber as
queixas e corrigir possíveis defeitos nas residências dos conjuntos
habitacionais. Responsável pelo conjunto Moradias Jandaia, a Cohab informou que
os proprietários devem formalizar suas reclamações na companhia. Ainda de
acordo com a assessoria do órgão, uma equipe composta por engenheiros está
fazendo um levantamento das condições dos imóveis já entregues para,
posteriormente, promover os reparos necessários.
Já as obras do Boa Esperança 1 e do Jardim Europa foram apontadas
pela Cohab como de responsabilidade da Caixa Econômica Federal, visto que sua
execução se deu através do programa Minha Casa, Minha Vida. A assessoria de
comunicação da Caixa informou que “a construtora responsável pela finalização
do empreendimento já está realizando as adequações e reparos necessários”.
A assessoria da Cohapar garantiu que não foi registrada nenhuma
reclamação referente ao conjunto Santa Clara, em Ponta Grossa. De acordo com a
companhia, porém, um mestre de obras permanece no local à disposição dos
moradores para verificar eventuais problemas nas construções. Os mutuários
podem ainda procurar os escritórios da Cohapar ou ligar para o telefone
0800645005. A companhia promete disponibilizar um engenheiro para vistoriar o
imóvel e, se comprovado que o problema ocorreu na construção, serão feitos os
reparos necessários.
Por Anderson Gonçalves, colaborou
Dilvo Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário