Humberto Schvabe, que trabalhou para o
atual presidente da Câmara, é ligado à empresa que recebeu recursos do
Legislativo municipal
João Cordeiro:
contratos de publicidade com a empresa ligada
ao ex-funcionário são anteriores
ao início do mandato
O vereador João Luiz Cordeiro (PSDB), o
João do Suco, assumiu a presidência da Câmara Municipal de Curitiba em março
deste ano afirmando ter a intenção de romper com a gestão do ex-presidente João
Cláudio Derosso (PSDB), marcada pelo escândalo de gastos com publicidade. Mas
documentos obtidos pela Gazeta do Povo e pela RPC TV revelam que o esquema de
notas fiscais de publicidade da Casa também beneficiou um funcionário que
trabalhou no gabinete do atual presidente.
Humberto Seco Schvabe foi assessor
parlamentar no gabinete da liderança do PSDB durante um ano – de fevereiro de
2010 a fevereiro de 2011. Nesse período, era João Luiz Cordeiro o líder dos
tucanos na Câmara. Além do trabalho político, Schvabe é diretor e editor geral
do jornal Gazeta do Bairro – publicação editada pela empresa Neide Ferreira
Seco Schvabe ME. Neide é mulher de Schvabe.
O contrato social da empresa mostra que
ela é a dona da empresa. Mas, na prática, Humberto Schvabe também comanda a
empresa. É ele mesmo quem admite. “Eu sou o proprietário aqui junto com a minha
esposa. Nós tocamos o jornal”, disse Schvabe sem saber que estava sendo
gravado.
O jornal Gazeta do Bairro recebeu por
meio da empresa Neide Ferreira Seco Schvabe ME pelo menos R$ 75 mil para
prestar serviço para a Câmara de Curitiba entre os anos de 2006 e 2011. Em
parte desse período, Schvabe era funcionário do Legislativo municipal, lotado
no gabinete da liderança do PSDB. O pagamento afronta a Lei de Licitações. Pela
legislação, um servidor não pode prestar serviços privados à instituição
pública em que trabalha. A vedação se aplica também as contratações e
subcontratações.
Isso quer dizer que a empresa Neide
Ferreira Seco Schvabe não poderia receber recursos da Câmara no mesmo período
em que Humberto Schvabe era funcionário comissionado. Os documentos a que a
reportagem teve acesso, porém, mostram que a empresa foi subcontratada pela
Visão Publicidade e pela Oficina da Notícia – as duas agências que venceram
licitação aberta pela Câmara para fazer a propaganda da Casa a um custo de R$
34 milhões por cinco anos.
Relação antiga
A relação entre Cordeiro e a família
Schvabe é antiga. “Nós temos um trabalho lá no Pinheirinho que não é de hoje. É
de muito tempo que a gente vem fazendo o trabalho. Então antes mesmo de eu ser
vereador, eu já tinha mensagens e proposta de trabalhos divulgados naquele
jornal [a Gazeta do Bairro]”, afirma o atual presidente da Câmara.
Depois de ser exonerado da liderança do
PSDB, Schvabe foi novamente contratado para cargo em comissão na Câmara. Em
dezembro do ano passado, Schvabe foi nomeado para trabalhar diretamente com
Cordeiro, no gabinete do parlamentar – sendo exonerado em abril de 2012.
“Agora sou presidente, é um outro
momento da Casa, por isso ele foi exonerado”, justificou o vereador. No mesmo
dia em que Schvabe foi demitido, a filha dele, Fabiele Seco Schvabe Slompo, foi
contratada para trabalhar no gabinete do vereador tucano.
Sociedade civil
OAB diz que envolvidos têm de devolver
dinheiro
A devolução dos recursos usados
irregularmente e a punição dos envolvidos é o que defende o presidente da
seccional Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PR), José Lúcio Glomb,
sobre as denúncias de gastos ilegais de verbas de publicidade da Câmara
Municipal de Curitiba. “É muito importante que se mexa no bolso dos envolvidos,
que restituam as importâncias, além de outros tipos de penalidades”, declarou.
Ele garantiu que a OAB está
acompanhando a apuração dos fatos e que, se não houver a investigação adequada,
a entidade vai tomar providências. Para Glomb, o Ministério Público e o
Tribunal de Contas do Estado precisariam ser mais atuantes e consistentes para
inibir atos ilícitos como os mostrados na série “Negócio Fechado”, divulgada
nesta semana pela Gazeta do Povo e pela RPC TV.
Dois fatores estariam, no entendimento
de Glomb, ligados intimamente aos escândalos relacionados à Câmara. “A crença
da impunidade prevalecia. Chegou nesse ponto porque em muitas instituições
públicas houve tolerância por muito tempo sem que houvesse os necessários
mecanismos de transparência”, pondera. Outro ponto questionável é o volume de
recursos – na ordem de R$ 34 milhões em cinco anos – aplicados em publicidade
pelo Legislativo municipal. “Não vejo necessidade de aplicar essa verba toda.
Normalmente, essa propaganda serve apenas para enaltecer os feitos das pessoas
que estão na Câmara, atrelados a interesses eleitorais. Acredito que deveria
haver muita moderação porque esse dinheiro poderia ser aplicado em outras
áreas”, diz. (KB)
Cordeiro nega irregularidade em
contrato
O presidente da Câmara de Curitiba,
vereador João Luiz Cordeiro (PSDB), defendeu o ex-funcionário Humberto Schvabe.
O parlamentar afirmou que não vê conflitos no fato de Schvabe ter sido servidor
da Câmara e no mesmo período ter recebido, mesmo que indiretamente, recursos do
Legislativo para divulgar a Casa. “Se ele cumpriu o papel de fazer o trabalho
que foi solicitado, fez a nota, fez o documento e recebeu, acho que aí não tem
problema. Teria problema sim se ele não tivesse cumprido o papel dele de
produzir aquilo que ficou proposto dentro do jornal”, disse.
Schvabe destaca que a proprietária do
jornal Gazeta do Bairro é a esposa, Neide, e que, muito antes de o vereador ser
eleito, já tinha verba de publicidade do Legislativo municipal. Ele disse ainda
que deixou de trabalhar no jornal durante o período em que esteve na Câmara,
apesar de reconhecer que continuou sendo o jornalista responsável pela
publicação e que não se afastou totalmente do veículo.
Sem problema
Para o ex-funcionário, não há
incompatibilidade alguma no fato de a empresa da família ter recebido recursos
públicos no mesmo período em que ele esteve lotado na Câmara, uma vez que o
serviço contratado foi efetivamente prestado. “Não vejo nada de errado”, diz.
Para Schvabe, a contratação da filha no gabinete de João Cordeiro nada tem a
ver com a saída dele do cargo.
Polícia Civil e Receita vão investigar
a Casa
A Receita Federal também vai investigar
a Câmara Municipal. O foco da Receita serão possíveis crimes fiscais envolvendo
a execução do contrato de publicidade da Casa.
Por Katia
Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik
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