Vereador, que comandou a Câmara
Municipal de Curitiba por quase 15 anos, não poderá se candidatar neste ano.
Ele próprio descartou retorno
Com sua desfiliação do PSDB, o vereador
e ex-presidente da Câmara Municipal de Curitiba João Cláudio Derosso deve
encerrar a carreira política após cumprir o atual mandato. Segundo advogados
especializados em Direito Eleitoral consultados pela Gazeta do Povo, não há
possibilidade de o vereador se inscrever em outro partido para disputar as
eleições deste ano, já que o prazo expirou em outubro de 2011. Além disso, o
próprio Derosso disse, em entrevista à rádio Banda B, que não quer mais
disputar eleições.
Na fila
Suplente demonstra interesse em ocupar
cadeira de ex-tucano
Fernanda Leitóles e Chico Marés
Edson do Parolin, líder comunitário que
assumiria a cadeira do vereador João Cláudio Derosso caso ele renunciasse ou
fosse cassado, manifestou interesse de se tornar vereador. “Fiquei sabendo da
decisão do Derosso hoje [terça-feira]. Vou conversar com o partido e pretendo
assumir essa vaga”, afirmou o suplente, pela manhã. Ele disse que a conversa
seria na tarde de ontem. Entretanto, não foi encontrado pela reportagem depois
dessa conversa.
Caso se tornasse vereador, Parolin já
chegaria com uma condenação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) nas costas.
Ele foi condenado a pagar R$ 5 mil de multa por ter pedido votos, antes do
período eleitoral, para o então pré-candidato Beto Richa (PSDB) em uma
distribuição de cobertores no bairro do Parolin. O caso ainda tramita no TSE.
Negócio Fechado
Roberto Hinça dará explicações hoje ao
PSD sobre suspeitas
O vereador Roberto Hinça deve prestar
esclarecimentos hoje ao Conselho de Ética do PSD sobre seu suposto envolvimento
com irregularidades mostradas pela Gazeta do Povo e RPC TV na série “Negócio
Fechado”. De acordo com o presidente do partido no município, o deputado
estadual Ney Leprevost, o próprio vereador pediu voluntariamente para dar essas
explicações. Ainda não existe qualquer processo disciplinar contra ele na
legenda.
Hinça diz que pediu para dar
explicações ao partido assim que as denúncias surgiram. “Prestarei esses
esclarecimentos para mostrar que nada tenho a ver com nenhuma irregularidade”,
disse. Ele nega, também, que tenha qualquer intenção de deixar a corregedoria
da Câmara, como foi sugerido pela oposição.
Segundo reportagem da série Negócio
Fechado, a empresa de um funcionário do gabinete de Hinça, Laércio Men, recebeu
pelo menos R$ 36 mil de verba de publicidade da Câmara. O vereador disse que,
apesar de saber da existência da empresa, não sabia que ela tinha recebido
verba publicitária da Casa.
Opinião
Lembrar nunca é demais
Daniela Neves, jornalista da Gazeta do
Povo, é mestre em Ciência Política
O pedido de desfiliação de João Cláudio
Derosso do PSDB, e a possível perda de mandato de vereador, não finaliza a
grave situação que vive a Câmara Municipal de Curitiba. Como dirigente da Casa
por 15 anos, Derosso pode até ser responsável por boa parte dos desmandos lá
cometidos. Porém o que a série “Negócio Fechado” – feita pela equipe da Gazeta
do Povo e RPCTV – mostrou é que um grupo grande de vereadores e de funcionários
da Câmara se beneficiava de um esquema “fácil e prático” de mau uso do dinheiro
público.
Se o próprio Derosso disse que se
sentia “leproso” ultimamente, que fique bem claro para seus colegas vereadores
que a saída dele não cura a doença. A instituição Câmara Municipal de Curitiba
deve ser fortalecida e para isso será necessário esclarecer para todos que de
alguma forma estão vinculados a ela que é preciso muito cuidado e
responsabilidade para lidar com dinheiro público. É um bem precioso (e
volumoso) que não pertence a quem lida com ele. E isso, que parece óbvio, deve
sempre ser ressaltado.
Aos envolvidos no esquema de repasse de
verba de publicidade do Legislativo municipal é bom lembrar que alegar
desconhecimento da lei não os livra da culpa.
Trabalho fundamental
O trabalho das câmaras municipais é
fundamental. Elas atuam na fiscalização do Poder Executivo, na criação de leis
e na análise do Orçamento Municipal, peça legal que define de que forma será
gasto o dinheiro da prefeitura. Mas os vereadores – muitos candidatos à
reeleição e que passarão neste ano novamente pela avaliação da população –
devem levar a sério o seu verdadeiro papel, muito maior e relevante do que têm
se prestado, não somente nesta legislatura, mas há muito tempo.
Na manhã de segunda-feira, o
ex-presidente da Câmara declarou à imprensa que não iria desistir de sua
candidatura à reeleição e que seria o vereador mais votado de Curitiba em
2012. Entretanto, ao longo do dia, mudou de opinião: encurralado por um pedido
de expulsão do PSDB, decidiu deixar o partido na noite de segunda-feira. Para
se candidatar às eleições, é preciso estar registrado em um partido político
pelo menos um ano antes do pleito. Por causa disso, ao deixar o ninho dos
tucanos, Derosso desistiu também de ser vereador na próxima legislatura.
Em entrevista à rádio Banda B, o
vereador mencionou que não pretende voltar à política. “Eu descarto a
possibilidade de voltar como político. Eu nasci no meio político, mas não quero
mais ter de ter compromisso de horário”, disse. O vereador contou também que
teve “dissabores do ponto de vista pessoal, particular e familiar”, e que
acredita que o momento é de cuidar de si próprio.
Cadeira
Sua decisão, entretanto, não deve se
refletir na legislatura atual. Como faltam poucos meses para o término de seu
mandato, é pouco provável que o PSDB consiga recuperar a cadeira a tempo. Caso
Derosso deixasse a Câmara, o líder comunitário Edson do Parolin, primeiro
suplente, seria empossado.
Segundo o ex-ministro do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) e professor de Direito Eleitoral Walter Costa Porto, o
Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o TSE julgue essas matérias. De
acordo com ele, não é possível prever em quanto tempo o pedido seria julgado,
mas é pouco provável que a decisão seja tomada antes da posse da próxima
legislatura. “Não tem por que pedir a cadeira, é um processo muito longo. Não
vai ser julgado até o fim do ano”, afirma.
De acordo com o advogado especialista
em Direito Eleitoral Éverson Tobaruela, o diretório estadual é a única parte
competente para isso – ou seja, nem o suplente, nem os outros vereadores podem
pedir à Justiça a devolução da cadeira ao partido. Ele pontua, entretanto, que
existem decisões arbitrárias tomadas em vários municípios que contrariam essa
resolução. Mesmo assim, a tendência é que elas sejam revertidas pelo TSE. O
ex-presidente não quis comentar sua saída do partido à Gazeta do Povo.
Partido
O PSDB ainda não decidiu o que irá
fazer. Presidente em exercício do diretório estadual, o deputado Valdir
Rossoni negou que essa responsabilidade seja do partido. “Isso depende mais da
vontade do suplente do que dos diretórios”, afirmou. Ele disse, ainda, que o
diretório estadual cumpriu seu papel no momento que houve necessidade de
interferência.
Já o vice-presidente do diretório
municipal, o deputado Fernando Francischini, disse que espera que o presidente,
Fernando Ghignone, convoque uma reunião para discutir o assunto, e preferiu não
adiantar sua opinião sobre o caso. A reportagem não conseguiu falar com
Ghignone.
Ex-tucano destrata repórter do CQC
Na primeira sessão na Câmara Municipal
após sua saída do PSDB, o vereador João Cláudio Derosso se envolveu em mais uma
polêmica. Irritado após uma pergunta sobre a contratação da empresa de sua
ex-mulher, Cláudia Queiroz Queiroz, o parlamentar arremessou da janela do
quarto andar da Câmara o microfone do repórter Maurício Meirelles, do programa
humorístico CQC, da TV Bandeirantes.
O repórter do CQC estava em Curitiba
para fazer um quadro sobre a Câmara – tentando entrevistar os envolvidos na
polêmica dos contratos de publicidade da Casa – e distribuir camisetas com
slogans como “eu desvio verbas públicas” e “eu tenho funcionários fantasmas”.
Sabendo da presença dos humoristas, a maioria dos vereadores evitava sair do
plenário; um deles, inclusive, reclamou com alguns repórteres que queria ir ao
banheiro, mas tinha medo de sair e aparecer no programa.
Quando a sessão estava próxima do fim, Derosso deixou o plenário e logo
foi cercado pela equipe do CQC. Em um primeiro momento, disse que não ia dar
entrevistas e seguiu para as escadarias da Câmara. Questionado sobre sua
ex-mulher, o vereador arrancou o microfone da mão do humorista, jogou-o da
janela do prédio e desceu as escadas. O humorista reclamou: “É isso o que você
faz com o seu eleitor”, gritou, irritado. Ele também acusou o vereador e a
ex-mulher de “roubarem dinheiro público”.
A reportagem entrou em contato com Derosso depois do incidente, mas ele
não quis falar sobre o assunto.
Por Chico Marés
Nenhum comentário:
Postar um comentário