Em Rebouças, no interior do estado, lei regulamenta a
tradicional prática.
Prefeito diz que curandeiros podem auxiliar a saúde pública.
Prefeito diz que curandeiros podem auxiliar a saúde pública.

Agda Cavalheiro, de 67
anos, explicou que o trabalho de benzedeira é orar
(Foto: Taísa Lewitzki)
Um mapeamento feito em 2009 pelo Movimento Aprendizes da
Sabedoria (Masa) identificou em Rebouças, no centro-sul do Paraná, 133
benzedeiras. Segundo o Censo de 2010, 14.176 pessoas vivem na cidade. O
levantamento foi encaminhado para a Câmara Municipal de Vereadores e deu origem
a um projeto de lei para regulamentar a prática. O texto foi aprovado pelos
parlamentares e sancionado pelo prefeito em Luiz Everaldo Zak (PT). Rebouças é
o primeiro município do país a oficializar a prática de benzedeiros, curadores,
“costureiro de rendiduras” ou “machucaduras”.
Na realidade é uma coisa que acontece, não tem como
ignorar isso"
Luiz Everaldo Zak, prefeito de Rebouças (PR)
A proposta, que é de 2010, também permite que estas
pessoas colham plantas medicinais nativas no município livremente para o
exercício do ofício. A lei concretizou uma parceria entre a tradição e as
políticas públicas voltadas para a sáude. “O município de Rebouças reconhece os
saberes e os conhecimentos localizados realizados por detentores de ‘ofícios
tradicionais’ , como instrumento importante para a saúde pública do município”,
diz o Artigo 3º da lei.
Para Ana Maria dos Santos, de 46 anos, que aprendeu
o ofício com o pai, a regulamentação trouxe segurança. "Agora temos mais
segurança, trabalhamos mais tranquilo. Podemos benzer dentro do posto, dos
hospitais, sem medo", conta. A benzedeira explicou que antes da medida ela
e as colegas tinham medo de serem denunciadas.
Solteira e sem filhos, Ana Maria se mantém com uma
ajuda do governo federal e com algumas doações que as pessoas fazem em troca do
serviço. "Deus não cobra nada de ninguém. E é Deus, Nossa Senhora que
curam. Quem doa, doa de coração", comenta. Ela diz que se sente
privilegiada por ser benzedeira. "Quando chegar no céu vamos receber um
prêmio por tudo que fizemos de bom. Isso é muito gratificante".

Na família de Ana Maria
dos Santos benzer é um
ofício passado de geração para geração
(Foto: Taísa Lewitzki)
ofício passado de geração para geração
(Foto: Taísa Lewitzki)
A tradição de benzer está há gerações da família de
Ana. O bisavô, também benzedeiro, era descendente de índio e passou o
conhecimento para o avô que ensinou para o pai. “Somos em seis irmãos e ele [o
pai] dizia que era eu ia ficar no lugar dele", contou Ana. Se depender da
benzedeira, a costume familiar não vai acabar, mas ela também reconhece que há
necessidade de as sobrinhas, de 10 e 15 anos, se interessarem pela arte. “Se
elas decidirem aprender, eu posso passar pra elas”.
Agda Andrade Cavalheiro, de 67 anos, contou que é
benzedeira para ajudar e comemora a lei que regulariza o oficio. "Foi uma
alegria muito grande [ser reconhecida pela lei], porque a gente ajuda muita
gente na doença, na pobreza. Porque quem tem recurso vai direto ao
especialista", explica a benzedeira. "Às vezes o que falta é oração.
O trabalho da benzedeira é a oração e os chás medicinais. E isso também pode
ajudar no tratamento médico", explica.
Para poder exercer o oficio livremente, a benzedeira deve ir à Secretaria Municipal de Saúde e solicitar a Carta de Auto-Definição, na qual deve descrever de que forma trabalha. Depois, o órgão emite o Certificado de Detentor de Oficio Tradicional de Saúde Popular e uma carteirinha.
Para poder exercer o oficio livremente, a benzedeira deve ir à Secretaria Municipal de Saúde e solicitar a Carta de Auto-Definição, na qual deve descrever de que forma trabalha. Depois, o órgão emite o Certificado de Detentor de Oficio Tradicional de Saúde Popular e uma carteirinha.
Na avaliação do prefeito de Rebouças, Luiz Everaldo
Zak (PT) a lei veio apenas para regulamentar algo que já ocorria e que fazia
parte da tradição da cidade. “Na realidade é uma coisa que acontece, não tem
como ignorar isso”, afirmou o prefeito. Segundo ele, a diferença é que agora as
benzedeiras e curandeiros são cadastrados e recebem uma carteirinha emitida
pela Secretaria Municipal de Saúde para exercer o ofício. “Agora nós sabemos o
que eles fazem”, acrescentou o prefeito. Zak destacou que essas pessoas podem
auxiliar a saúde pública ao passarem orientações adequadas.
Ao G1 o prefeito explicou que já houve
algumas reuniões entre os profissionais da secretaria e as benzedeiras e que a
equipe da Saúde da Família tem contato direto com mulheres. “Algumas pessoas
procuram direto e a gente pede para que eles procurem as situações graves que encaminhem,
para a saúde pública, para a medicina convencional”, disse Zak.
Por Ariane Ducati e
Bibiana Dionísio
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