Insatisfação com o congelamento da verba ameaça complicar para o
governo as votações da Lei da Copa, nova previdência do funcionalismo e Código
Florestal
Dilma pede apoio à nova aposentadoria -
A presidente Dilma Rousseff aproveitou o fato de estar ontem reunida com
grande parte da bancada da Câmara Federal do Ceará para pedir apoio na
votação da novas regras da previdência federal. Em reunião realizada
antes da cerimônia de anúncio de investimento para o metrô de
Fortaleza (foto), ela solicitou que os parlamentares estejam
presentes hoje no Congresso para votar o projeto. “Ela nos pediu para
votar na Câmara amanhã [hoje]”, disse o deputado federal José Guimarães
(PT-CE)
Duas semanas depois de anunciar o corte de R$ 20,3 bilhões previstos para
emendas parlamentares no orçamento deste ano, o governo federal começa a
encarar hoje, na Câmara dos Deputados, seus principais desafios legislativos em
2012. O primeiro é a votação em plenário do projeto de lei que cria o novo
modelo de previdência para os servidores públicos federais. Ao mesmo tempo,
será apreciada em comissão especial a proposta da Lei Geral da Copa do Mundo de
2014. Para a próxima semana, está agendada a última etapa de tramitação do novo
Código Florestal.
Os três temas foram classificados como “prioridade máxima” pela
presidente Dilma Rousseff em reunião com lideranças da base aliada no Congresso
no dia 14 de fevereiro. Em todos os casos, no entanto, não há perspectiva de
vitórias fáceis para o governo. Apesar de contar com o apoio de aproximadamente
400 dos 513 deputados, Dilma tende a sofrer resistências da base aliada.
Vice-líder do governo na Câmara, o paranaense Alex Canziani (PTB)
diz que os problemas relativos ao corte das emendas não são referentes apenas a
2012. “Em 2011, houve alguns casos de emendas que haviam sido negociadas e
acabaram vetadas. É mais importante resolver o que ficou para trás do que
aquilo que vem pela frente.”
Na base de Dilma, o PDT, com 26 deputados, já anunciou que não vai
votar a favor das mudanças nas aposentadorias do funcionalismo. Até petistas
ligados ao movimento sindical também manifestam resistências. Entre a oposição,
só o PSDB aceita negociar.
“Pela maioria que tem, o governo tem tudo para aprovar, mas nós
vamos tentar impedir”, diz o deputado paranaense Sandro Alex (PPS). O partido
dele e o DEM prometem utilizar todos os dispositivos regimentais, como a
obstrução, para atrapalhar a votação. “É um projeto ruim, que se aprovado vai
precisar ser revisto dentro de dez anos”, complementa Sandro Alex.
Já o deputado André Vargas (PT), que também é do Paraná, garante
que todos os acordos já foram fechados. “Nós temos uma pressão de setores
corporativos, o que é normal e vai ser resolvido”, adiantou. Há duas semanas, o
projeto da previdência chegou a entrar na pauta, mas a votação foi adiada por
falta de acordo.
Teto do INSS
O eixo central da proposta estabelece que todos os que ingressarem
no serviço público federal, após a vigência da nova lei, terão a aposentadoria
vinculada ao Regime Geral de Previdência Social (do INSS), com teto de R$
3.689,66. Os valores adicionais seriam somados com a adesão a fundos
complementares, atrelados à criação da Fundação de Previdência Complementar do
Servidor Público Federal (Funpresp). A alíquota de contribuição do servidor
para esses fundos será definida por ele próprio, com base no valor que deseja
receber de aposentadoria – enquanto isso, o governo dará uma contrapartida de
no máximo 8,5% do salário do servidor.
A proposta da Lei Geral da Copa enfrenta o mesmo tipo de
resistência na Câmara. O texto é um apanhado de exigências da Fifa para a
realização da Copa no Brasil. Na semana passada, o petista paranaense Dr.
Rosinha, integrante da comissão especial que discute a proposta, disse que
pediria ao partido para que liberasse a bancada para votar como quisesse quando
a matéria chegasse ao plenário.
O último dos três primeiros desafios do governo é a manutenção do
Código Florestal nos termos do que foi aprovado no fim do ano passado pelo
Senado. Em maio de 2011, a Câmara havia aprovado uma primeira versão do texto,
mais favorável aos ruralistas e diferente do desejado por Dilma. O receio do
governo é que os deputados tentem derrubar parte das mudanças feitas pelos
senadores.
Primeiras batalhas
Entenda o teor dos projetos de interesse do Planalto que serão votados
a partir de hoje:
Previdência dos servidores
O Projeto de Lei 1.992/2007 estabelece que todos servidores que
ingressarem no serviço público federal após a vigência da nova lei terão as
aposentadorias limitadas ao teto do pago pelo INSS aos trabalhadores da
iniciativa privada (hoje em R$ 3.689,66). Quem quiser ganhar mais vai precisar
contribuir com um fundo de previdência complementar. A lei vale para os três
poderes: Executivo, Legislativo ou Judiciário, menos para os militares. Os
servidores atuais não são obrigados a aderir. Depois de aprovado pelo plenário
da Câmara, o texto segue para o Senado.
Lei Geral da Copa
O PL 2.330/2011 trata de um conjunto de medidas para a realização
da Copa das Confederações de 2013 e da Copa de 2014. Sete dos dez capítulos do
texto que será apreciado hoje em comissão especial da Câmara tratam de
proteções comerciais à Fifa. Apesar de dispor de 23 artigos a mais que o
projeto encaminhado pelo governo, o texto mantém a maioria das exigências da
Fifa. Dentre os pontos polêmicos, permite a venda de bebidas alcoólicas nos
estádios apenas durante a Copa e impede a venda de meia-entrada para
estudantes, mesmo com a aprovação do Estatuto da Juventude. O texto ainda
precisa ser aprovado em plenário, antes de seguir para o Senado.
Código Florestal
O PL 1.876/1999 define novas regras de preservação ambiental.
Entre os principais pontos, institui novos critérios para delimitação de áreas
de preservação permanente e de reserva legal dentro de propriedades rurais. A
proposta já passou pela Câmara em maio de 2011, mas depois sofreu várias
modificações no Senado. A votação pelo plenário da Câmara será a última etapa
da tramitação. Os deputados não podem sugerir novas ideias, apenas derrubar
parte do que foi aprovado pelos senadores. Caso as mudanças prejudiquem a
conservação ambiental por pressão dos ruralistas, há chance de veto de Dilma.
Por André Gonçalves |
Brasília - correspondente
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