Preço do quilo de
uma mesma marca chega a saltar de R$ 23,47 para R$ 112,19. Em nome da economia,
há quem se disponha a dispensar a versão de Páscoa
O radialista André Ambonatti: crianças vão ganhar ovo e adultos, barra ou bombom
Um “protesto” nas
redes sociais tem chamado a atenção para um fato que há tempo surpreende os
consumidores: por que é tão grande a diferença entre os preços da barra de
chocolate e do ovo de Páscoa? Para a indústria, são produtos diferentes, com
produção e características distintas. A explicação, porém, não convence quem
quer trocar presentes nesta época do ano, e a manifestação virtual já causa mudanças
de comportamento entre alguns consumidores.
O preço do quilo do
chocolate em barra e em forma de ovo pode variar quase 400% – ou seja, o ovo
custa perto de cinco vezes o preço da barra. É o caso do Lacta Laka: sua barra
de 170 gramas custa nas lojas e supermercados R$ 3,99, o equivalente a R$ 23,47
por quilo, ao passo que o ovo de 196 gramas sai por R$ 21,99 (ou R$ 112,19 o
quilo).
Mas será que os
consumidores estariam dispostos a abrir mão do ovo de chocolate pela economia
que a troca poderia gerar? Uma enquete realizada ontem no site da Gazeta do
Povo mostra que 92% dos leitores não se importariam em presentear alguém ou
receber uma barra de chocolate.
O radialista André
Ambonatti é um deles. Ele já avisou a esposa que neste ano quer apenas barras de
chocolate, porque, segundo ele, o preço do ovo está muito alto. Mas, quando o
assunto é criança, a opinião muda. “Tenho uma sobrinha pequena e é difícil para
ela entender que a barra é mais barata que o ovo. Mas para adulto vai ser caixa
de bombom ou barra. Não é questão de ser pão-duro, é questão de dar valor ao
nosso dinheiro. Esses ovos estão sendo vendidos a preço de ouro”, reclama.
Para a coordenadora
do Procon-PR, Claudia Silvano, embora seja difícil presentear as crianças com
barras de chocolate em vez de ovos, a Páscoa pode ser uma oportunidade de
diálogo entre pais e filhos sobre a relação de consumo. “A simbologia da Páscoa
não justificaria uma diferença tão grande entre os preços, mesmo sabendo que há
tecnologias diferentes no processo de fabricação dos dois produtos. Em vez de
os pais sucumbirem à simbologia, por que não ensinar às crianças que elas podem
ganhar mais chocolate com o mesmo preço?”, sugere.
Produto de época
A sazonalidade é um
dos fatores que influenciam o preço – o ovo de chocolate só é vendido nesta
época. Na opinião do professor de Economia da PUCPR Fábio Tadeu Araújo, mesmo
aqueles que dizem resistir ao ovo por causa do preço acabam se rendendo na
“hora H”. “É o momento da Páscoa. A procura maior também colabora com o aumento.
Algumas vezes até barras de chocolate ficam mais caras na Páscoa. A única saída
é pesquisar, fazendo uma lista do que se precisa e comparando preços”, pondera
o economista.
Entretanto, nem
toda fábrica de chocolate tem diferenças tão grandes entre as barras e os ovos.
A Casa de Chocolates Schimmelpfeng, especializada em chocolates artesanais
finos, produz um ovo de 300 gramas por R$ 36 e uma barra de 350 gramas por R$
35. Para o gerente comercial da fábrica, José Augusto Fortes, o custo da
produção é alto porque os produtos são feitos um a um.
“No caso de
produtos industrializados, em que são feitos em larga escala, acredito ser
possível haver uma diferença menor de preço. Já vi alguns ovos de grandes
marcas mais caros que os nossos, que são premium e normalmente custam mais. Os
ovos de Páscoa não estão baratos”, opina.
Produção é
diferente, argumenta a indústria
Uma das explicações
da indústria para a diferença de preço entre os ovos e as barras de chocolate é
o processo de fabricação. De acordo com Rommel Barion, diretor-geral da Barion,
fábrica de chocolate localizada em Colombo, na Região Metropolitana de
Curitiba, o ovo tem diferenças importantes, como a embalagem e a fita, que o
encarecem.
“Não há como
comparar porque são produtos diferentes. O processo de fabricação da barra é
muito mais simples e do ovo é mais sofisticado, requer mais tempo para o
preparo, outro maquinário, para centrifugar e resfriar o chocolate”, pontua
Barion.
A marca Lacta, da
fabricante de alimentos Kraft Foods, que fica na Cidade Industrial de Curitiba
(CIC), também considera os dois produtos diferentes. Segundo a empresa, a
produção de um ovo de chocolate é mais artesanal – cada um deles é embalado
manualmente, em uma área exclusiva da fábrica, com equipamentos e espaços de
armazenamento dedicados apenas à Páscoa.
Para a gerente de
marketing de Páscoa da Lacta, Mariana Perota, outra diferença do ovo é o
trabalho temporário: para a Páscoa de 2012, a Lacta contratou cerca de 1,2 mil
funcionários temporários, que trabalham desde agosto para produzir os 27
milhões de unidades neste ano. “Todos esses ovos são embalados à mão. É uma
cadeia muito especial, com milhares de pessoas trabalhando para a Páscoa.
Fazemos um produto bonito e intacto, com embalagem e fita que protege o chocolate
durante o transporte”, ressalta Mariana. Procuradas, Nestlé e Garoto não se
posicionaram até o fechamento da edição.
Por João Pedro Schonarth

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