Entre as estradas mais perigosas no Paraná estão a BR-376 e a
PR-407, que acumularam juntas 6 mil acidentes e 163 mortes só no ano passado

Na BR-277, o movimento foi intenso durante todo o dia de ontem:
por hora, 2,3 mil veículos passaram pela rodovia
O ritmo de crescimento de veículos do Paraná foi
acompanhado, nos últimos dez anos, por outro dado nada animador: o número de
acidentes nas rodovias estaduais e federais. A frota cresceu de 2001 a 2011,
114% (de 2,5 milhões para 5,4 milhões), mas as condições das rodovias
permaneceram praticamente as mesmas, o que contribuiu para elevar também o
número de acidentes, no mesmo período, em 99%.
Somados os dados das polícias rodoviários estaduais
e federais do Paraná, as estradas tiveram 33,7 mil acidentes no ano passado,
contra 16,9 mil em 2001. O número de mortes também aumentou, mas em um ritmo
menor, 43%. As estradas mais violentas sob a fiscalização da Polícia Rodoviária
Estadual (PRE) são a PR-407, entrada para as praias de Pontal do Paraná, e a
PR-445, entrada para Londrina, que tiveram o maior número de acidentes. A que
registrou mais mortes, em 2011, foi a PR-415, em Piraquara, Região Metropolitana
de Curitiba.
Apesar do aumento geral na quantidade de acidentes,
de 2009 para 2011 as rodovias estaduais tiveram uma queda (de 12.999 para
11.555). A redução, porém, coincide com a data de transferência de 3,5 mil
quilômetros de rodovias federais, que estavam sob a responsabilidade da PRE,
para a Polícia Rodoviária Federal (PRF), após determinação da Justiça.
Hoje, a PRF é a responsável pela fiscalização de
todas as rodovias federais que cortam o Paraná, o equivalente a 4.042
quilômetros. Mesmo assim, para o chefe de operações da PRE, Sheldon Vortolin, a
redução de acidentes nas estaduais também se deve a um trabalho feito nos
últimos anos, que leva em conta a identificação dos pontos críticos, tipos de
acidentes e se a causa está relacionada a um problema de engenharia ou defeito
da pista. “Identifica-se o problema. É um tipo de trabalho preventivo que está
sendo feito”, diz.
Apesar de as rodovias federais apresentarem menor
quilometragem no Paraná (4 mil, contra 12 mil de estaduais), são nelas que
ocorrem mais acidentes. Foram registradas 22.161 ocorrências em 2011, contra
11.555 nas estaduais. A mais violenta é a BR-376, seguida pela BR-277. Já em número
de mortes a BR-277 sai na frente. Ainda: as estradas campeãs em acidentes são
aquelas que concentram o maior número de pedágios.
Análise
Embora boa parte das rodovias não tenha a
manutenção desejada, aquelas que passaram por melhorias também podem ser uma
ameaça aos motoristas. A psicóloga Iara Thielen, coordenadora do Núcleo de
Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, lembra que a
duplicação de uma via produz no motorista uma falsa sensação de segurança. “A
percepção das pessoas quanto ao risco acaba sendo distorcida. Elas acreditam
que têm controle da situação”, diz.
Diante desta condição, Iara defende o incremento da
fiscalização eletrônica, porque há uma tendência de as pessoas abusarem da
velocidade quando se sentem seguras. A fiscalização direta dos motoristas
também deveria ser mais eficiente, já que hoje a maioria não é parada nas
estradas.
Maioria das estradas é de pista simples
O retrato da malha rodoviária paranaense mostra as
precárias condições das estradas e o baixo porcentual de pistas duplas. São
15.818 quilômetros de rodovias, dos quais 2.310 não estão pavimentados. Dos
13,5 mil quilômetros pavimentados, há pista simples em12.913 e pista dupla em
972.
Wilson Martines, da Polícia Rodoviária Federal
(PRF), lembra que nos últimos dez anos a malha viária não aumentou, apesar da
melhoria das condições de algumas pistas, incluindo a BR-116. “Nós tivemos o
aumento da frota, mas a malha é a mesma”, diz.
Martines afirma que ao gargalo das rodovias
paranaenses deve-se somar a circulação de motoristas inexperientes nas
estradas. “O incentivo para a compra do carro novo e o crédito fácil levaram
pessoas inexperientes a trafegar nas rodovias”. Pelas observações dos
policiais, hoje é grande o número de motoristas na faixa etária dos 35 anos
dirigindo com pouco tempo de habilitação.
O professor Eduardo Ratton, doutor em engenharia e
titular do departamento de Transportes da UFPR, diz que inúmeros fatores pesam
quando o assunto é o aumento dos acidentes. Os principais são alta velocidade,
precariedade na conservação das rodovias e na sinalização. “É fundamental
reduzir a velocidade nos trechos críticos, com radares e sinalização”, afirma.
Quanto à velocidade, o professor enfatiza a necessidade de maior controle pelos
órgãos de fiscalização e penalização mais rígida aos motoristas.
Ratton também pontua a necessidade de maior
conservação das estradas. “Hoje, exceto a malha pedagiada, a manutenção não é a
desejada. Ao mesmo tempo em que houve aumento da frota, muitas rodovias não
tiveram a capacidade ampliada com terceira pista e duplicação”, explica.
Faltam ainda, segundo Ratton, melhorias na inspeção
dos veículos, conscientização dos motoristas, mais estudos sobres os pontos
críticos de acidentes e maior envolvimento do governo e setor privado para
combater os problemas do trânsito. Os estudos poderiam envolver parcerias com
universidades.
Sugestões
O professor propõe mais visibilidade nas campanhas
de educação para o trânsito. Para isso é preciso haver envolvimento maior da
sociedade e dos setores público e privado, inclusive dos fabricantes e
revendedores de veículos. Outra necessidade é de investimento e divulgação de
estatísticas, tornando-as mais visíveis à população.
Denise Paro
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