Jovem curitibano concluiu a segunda graduação em Educação
Física.
Rapaz relata situações de preconceito na época da faculdade.
Rapaz relata situações de preconceito na época da faculdade.

Roseli e o filho na colação de grau de Licenciatura em Educação Física
(Foto: Arquivo pessoal)
A secretária Roseli Mancini comemora a segunda colação de
grau do filho João Vitor, que tem Síndrome de Down, em Educação Física, no
último sábado (19), em Curitiba. “Ele nasceu em São Paulo e quando completou
dois meses de vida viemos morar em Curitiba. Aí começou nossa caminhada. Sem
conhecer nada da cidade, fomos a procura de um tratamento, nos indicaram a
Associação de Pais e Amigos Excepcionais (APAE). Hoje, depois de tanta luta,
podemos comemorar e deixar para trás muitos 'nãos' e além de tudo, superamos o
preconceito”.
João Vitor tem 25 anos e explicou, em entrevista ao G1, na manhã desta quinta-feira
(24), que os preconceitos foram vários e relatou alguns casos. "Eu lembro
bem de um caso que ocorreu na primeira faculdade. Estávamos em uma aula de
atletismo e eu estava fazendo um movimento errado, e, ao invés da professora me
corrigir, ela falou: "deixa ele". Eu fiquei muito decepcionado e me
perguntei porque ela teria agido daquela forma. Também não entendi que tipo de
metodoligia ela usava. Eu esperava que ela me ajudasse. Bastava ela ter me
corrigido".
João Vitor tem 25 anos e passou no vestibular na
primeira tentativa (Foto: Arquivo pessoal)
primeira tentativa (Foto: Arquivo pessoal)
Em outro caso relatado pelo jovem, o preconceito, segundo
ele, veio de uma das colegas de classe. "Por parte dos colegas eu sempre
tive que provar que era eu que fazia os trabalhos e os deveres. E um dia, uma
das colegas falou que ela tinha feito o trabalho sozinha, sendo que eu também
havia participado. Na verdade (...), ela me deixou tão pra baixo e deprimido
que não tive reação na hora. Com isso, eu preferi sempre fazer os trabalhos e
deveres sozinho".
A mãe contou que o filho ficou na APAE até os dois anos e
meio. “Quando percebi que lá não havia mais nada a acrescentar na vida do meu
filho, tomei a decisão de colocá-lo em uma escola regular. E deu super certo
(...), no início fui criticada por muitas pessoas pela minha ousadia, mas hoje
posso comemorar o resultado - meu filho já têm duas faculdades”.
Quero fazer a diferença e abrir as portas para dar mais
qualidade de vida para esse público"
João Vitor, portador de Síndrome de Down
Ele passou no vestibular na primeira tentativa e concluiu
o Bacharelado em Educação Física na Universidade Tuiuti, em julho de 2009. Em
seguida, entrou no curso de licenciatura na mesma área [Educação Física] e
concluiu no final do ano passado. “Quando chegou o dia da colação de grau, mais
uma vez, foi uma emoção sem igual, uma vitória indescritível”, confessou a mãe.
Roseli aconselha os pais que também que também têm filhos
com Síndrome de Down e explica que o princípio de tudo é encarar a situação com
normalidade. "Penso que os pais com filhos especiais, em primeiro lugar
devem eles próprios não ter preconceitos, pois, muitas vezes,
inconscientemente, eles têm, e isto dificulta o relacionamento com o externo.
Devem acima de tudo optar por escolas regulares, sem medo do preconceito, pois
só do lado de crianças normais, com parâmetros normais, os filhos poderão
evoluir".
"Estou feliz. Meu maior sonho a partir de agora é
abrir uma academia voltada para o público com necessidades especiais, como eu,
ou dar aula em escolas. Percebo que essas pessoas precisam de incentivo e de
boa expressão corporal, coisas que foram essenciais na minha vida até agora.
Por isso, quero fazer a diferença e abrir as portas para tentar dar mais
qualidade de vida para esse público", acrescentou João.
Roseli contou também que João Vitor já encaminhou alguns
currículos para tentar um espaço no mercado de trabalho, mas afirmou que ele
enfrenta barreiras diariamente. “O problema é que ainda existe muito
preconceito. Mas não perdemos a esperança, estamos aguardando uma chance”,
concluiu.
Por Adriana Justi
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