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segunda-feira, 19 de março de 2012

Elas são pagas para comer chocolate

Sete funcionárias da Kraft Foods têm a missão de avaliar a cor, consistência e crocância dos produtos desenvolvidos pela empresa

Marcelo Andrade / Gazeta do Povo / A química Daniela Silva organiza os testes para avaliação das combinações de chocolates
 A química Daniela Silva organiza os testes 
para avaliação das combinações de chocolates

Elas ganham o pão comendo chocolate. A Gazeta do Povo co­­nheceu sete mulheres na fábrica da Kraft Foods, na Cidade In­­dustrial de Curitiba, cuja rotina de trabalho inclui degustar gostosuras o tempo todo. Elas são responsáveis por inventar novos produtos e garantir sabor e qualidade para os consumidores. Emprego dos sonhos de muitas mulheres, o trabalho pode ser considerado o equivalente feminino da carreira de provador de cerveja. 

Apesar de parecer diversão, o trabalho é sério. As papilas gustativas são colocadas à prova para analisar várias características dos produtos. Cor, consistência e crocância são aspectos avaliados. Aí elas sugerem se o produto deve ser alterado e ter mais recheio, por exemplo. As pesquisadoras também precisam garantir que o bombom feito em Curitiba tenha o mesmo padrão dos produzidos em outras fábricas da empresa. 

Mais do que trabalhar com chocolate, a química Daniela Silva queria morar em Curitiba. Paulista, ela pretendia atuar no ramo petrolífero, mas quando começou a estagiar numa empresa de aromas e fragrâncias, a química percebeu que levava jeito para perceber as nuances da mistura de cacau e gordura e virou analista sensorial. É ela que organiza os testes aplicados às demais sortudas encarregadas de provar as combinações de chocolates. 

A engenheira de alimentos Patrícia Karasz comanda um time de seis mulheres e explica que trabalhar com pesquisa e desenvolvimento de chocolates não é uma atividade exclusivamente feminina, mas que, além da preocupação maior com os detalhes, são elas que preferem a área. No grupo, as formações variam: há engenheiras químicas, de alimentos e de produção. A atuação delas é recheada de mistérios. Elas estão desenvolvendo os produtos que serão comercializados daqui a um ou dois anos – considerados segredos industriais que precisam ficar longe dos olhos de visitantes curiosos. 

Só no trabalho, cada uma come aproximadamente 11 quilos de chocolate por ano – o que é bem próximo do consumo anual médio em países como Áustria e Suíça, onde por características climáticas, culturais e econômicas, a população come bem mais do que o brasileiro, que na média consome três quilos por ano.
Na fábrica da Kraft Foods, o chocolate que sobra das experiências vai para uma travessa, chamada de bandeja da felicidade, e fica à disposição dos funcionários que não têm o privilégio de comer o doce por dever de ofício.

Trabalho muda relação com o produto
O ar no entorno da fábrica cheira a chocolate. Depois de horas a fio, algumas pessoas ficam enjoadas. Mas a engenheira de alimentos Larissa Silveira não está entre elas. “Eu começo a salivar quando entro na produção”, confessa. O deslumbramento é inevitável nos primeiros meses de trabalho. Depois, a fartura leva ao desprendimento, a ponto de pecados serem cometidos sem dó: uma barra que amoleceu é jogada inteira no lixo. 

Pelo menos quatro se assumem chocólatras – e já tinham essa relação de dependência antes mesmo de viverem cercadas pelo produto do desejo. Mas todas afirmam que mudaram substancialmente a relação com o chocolate quando comer virou trabalho. Agora, são mais exigentes. Trocaram quantidade por qualidade. “Eu não chego mais em casa e como uma barra inteira, sentada em frente à TV. Mas ainda como fora do trabalho”, comenta Larissa, que quando era criança dizia que trabalharia numa fábrica de chocolate. 

“Não temos mais aquele desespero para comer chocolate porque sabemos que não vai faltar, que logo vamos ter de novo”, conta a engenheira de alimentos Patrícia Pizaia. Por mais incrível que pareça, chegam a recusar chocolate, principalmente quando chegam de manhã para trabalhar e lá estão os tabletes à espera. Também na fábrica, o “consumo científico” au­­menta nos períodos de tensão pré-menstrual e de ansiedade. Elas brincam que deveriam receber um adicional-spa ou um vale-Xenical (medicamento que elimina parte da gordura ingerida na alimentação).

Academia
Para perder as muitas calorias que ganham no trabalho, as sete entrevistadas confessam que frequentam academia. Todas, sem exceção, engordaram depois que começaram a trabalhar na fábrica e acabam deixando de comer algumas delícias fora do trabalho para compensar. A engenheira de alimentos Cristina Fernandes, que já trabalhou em uma fábrica de panificação e confeitos, lembra que há outras áreas profissionais mais “engordativas”. Ela acredita que comeu chocolate todos os dias desde que entrou na fábrica, em novembro. Patrícia Karasz, que trabalhou na produção de vários outros produtos dentro da empresa, como queijos e sucos, assegura que a linha de produção de chocolate é a mais saborosa. 

A engenheira de produção Thais Bertolazo admite que continua consumindo chocolate fora da fábrica. No trabalho, ela acaba degustando vários tipos de chocolates, mas gosta mesmo é do branco. Então, quando pode, come apenas o preferido. O mesmo acontece com Patricia Karasz, que prefere o amargo.

 Thais Bertolazo, Larissa Silveira, Cristina Fernandes, Daniela Silva, Patrícia Pizaia, Patricia Karasz e Caroline Fernandes (Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)
Thais Bertolazo, Larissa Silveira, Cristina Fernandes, Daniela Silva, 
 Patrícia Pizaia, Patricia Karasz e Caroline Fernandes
 (Marcelo Andrade / Gazeta do Povo)

Presente
O que elas ganham na Páscoa?
Daniela Silva não ganha ovos de Páscoa há quatro anos – desde que passou a trabalhar na fábrica de chocolate. Parentes e amigos deixaram de presenteá-la, acreditando que ela não se interessaria por algo que é tão rotineiro e abundante na vida profissional. O namorado de Larissa Silveira já avisou que não sabe o que fazer no dia 8 de abril. “Ele me perguntou o que pode me dar de Páscoa. Eu respondi que pode ser um brinco. Se me der um ovo da concorrência, vou ficar brava. Ele também não vai comprar um que eu que fiz”, comenta.

Por outro lado, todas as pessoas próximas às pesquisadoras esperam ansiosamente pela Páscoa. Na fa­­mília, elas viraram a personificação dos coelhinhos. Responsáveis pela diversão dos outros, passaram a se ver cercadas de expectativas. Única mãe entre as entrevistadas, Patrícia Karasz garante que não ficou desautorizada diante dos filhos na hora de frear os impulsos da comilança de doces. “Eles só podem pegar chocolate depois de comerem uma fruta e é uma fileira apenas”, diz. (KB)




Por Katia Brembatti

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