Recém-nascido foi internado com febre e diarreia em hospital de Paranaguá e voltou para casa sem um dos pés
Os gêmeos Marcos (esq) e Marlon: bebê teve perna amputada após a mãe, Solange (abaixo) levá-lo ao hospital
Os
gêmeos Marlon e Marcos, de seis meses de idade, nasceram praticamente
idênticos, mas hoje carregam uma triste diferença: Marlon teve a perna
direita amputada um mês e meio após dar entrada no Hospital Regional
de Paranaguá com sintomas comuns em crianças: febre e diarreia. A
família suspeita de erro médico.
A dona de casa Solange Galdino Cordeiro, de 28 anos, mãe dos
gêmeos, conta que se arrependeu amargamente por ter feito o correto, ter
levado o filho ao hospital. “Ele entrou no hospital com diarreia e saiu
sem uma parte do corpo. Não sei como vou explicar isso para ele no
futuro”, diz.
Depois de passar pelo posto de saúde do bairro Baduca e ser
encaminhada ao hospital no dia 11 de setembro, a mãe voltou para casa
com a informação de que a febre poderia ter sido causada por uma virose e
que logo o filho ficaria bem.
Sem melhora aparente do bebê, a mãe voltou ao hospital na tarde do
dia seguinte. “Levei em outro médico plantonista e ele percebeu que o
Marlon não estava nada bem”, relata.
De acordo com informações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), o
paciente deu entrada no hospital com quadro de desidratação grave, com
risco de morte. A criança precisava receber medicação, mas como os
enfermeiros não conseguiram encontrar um acesso venoso, foi realizada
pulsão intraóssea na perna direita da criança. Esse procedimento
consiste na aplicação de medicação diretamente no osso do paciente.
A médica intensivista Maria Cristina da Silveira, do Hospital Pequeno
Príncipe, explica que o acesso intraósseo não é rotineiro, mas é
indicado em casos de urgência e emergência quando não se consegue
localizar uma veia periférica no paciente, como na região dos braços ou
das mãos, por exemplo. “Não é um acesso para longa duração. Geralmente é
utilizado até se encontrar outros acessos venosos. Encontrados esses
acessos o procedimento intraósseo deve ser retirado imediatamente”,
explica.
Prontuário
De acordo com o diretor técnico do Hospital Regional de Paranaguá,
André Luiz Balliana, quando o acesso venoso foi encontrado, o acesso
intraósseo foi logo retirado. No entanto, essa informação difere da
registrada no prontuário médico do hospital, que mostra que o acesso
venoso foi encontrado na região da cabeça de Marlon às 18 horas do dia
12 de setembro, duas horas depois do procedimento intraósseo. De acordo
com o documento, o acesso intraósseo foi retirado apenas no dia seguinte
às 14h30, após a detecção de um edema e cianose (coloração azul
arroxeada da pele) no pé direito, que começava a se estender para a
perna.
Os médicos do hospital também afirmam que o acesso venoso realizado
às 18 horas não teve sucesso, sendo retirado 15 minutos depois.
Entretanto, no prontuário consta que no dia seguinte foi realizada uma
flebotomia para se conseguir acesso venoso no braço esquerdo do bebê,
para substituir o acesso da cabeça.
“Os médicos deixaram meu filho quase 24 horas com dois acessos, o na
cabeça e o na perninha. Esqueceram de tirar o acesso intraósseo.
Acredito que meu filho recebeu excesso de medicamento porque depois
deste fato, o Marlon teve uma parada respiratória”, reclama a mãe.
“Além da duplicidade de agulhas, após retirarem o acesso intraósseo da
perna do meu filho, percebi que havia uma lesão no local”, completa.
O médico José Evando de Aguila Gois, do Departamento de Ortopedia Infantil do HPP, conta que além do quadro de insuficiência renal, o paciente deu entrada no hospital com uma lesão grave na perna direita. “Fizemos de tudo para preservar a perna da criança. Mas, quando percebemos que o quadro poderia evoluir para uma infecção generalizada, decidimos amputar o membro inferior do menino para salvar a vida dele”, disse o médico.
O Ministério Público da Saúde em Paranaguá foi acionado pela família e está investigando o caso. De acordo com informações do órgão, deve ser instaurado um procedimento administrativo e criminal com o objetivo de apurar eventual responsabilidade dos envolvidos e a Promotoria promete tomar as providências cabíveis para que o caso seja devidamente apurado.
Reincidência
O deputado estadual e presidente da Comissão Permanente da Saúde da Assembleia Legislativa do Paraná, Leonaldo Paranhos relatou na CPI do SUS, no início de dezembro, um caso semelhante ocorrido também no Hospital Regional de Paranaguá. “É inadmissível um hospital deste porte cometer o mesmo erro. Há seis meses, o menino Túlio Guimarães sofreu uma fratura exposta e seu braço foi apenas engessado. Dois dias depois, com muita dor, ele voltou ao hospital e quando o gesso foi retirado, o braço já estava necrosado”, afirma Paranhos. A comissão entrou em contato com a família e está tomando as medidas legais.
Complicações
Procedimento preservou a vida de Marlon
Após constatada a gravidade do caso de Marlon, a criança foi encaminhada de Paranaguá para o Hospital Pequeno Príncipe (HPP), em Curitiba, com o quadro de insuficiência renal aguda e acidose metabólica, segundo informações da Sesa.O médico José Evando de Aguila Gois, do Departamento de Ortopedia Infantil do HPP, conta que além do quadro de insuficiência renal, o paciente deu entrada no hospital com uma lesão grave na perna direita. “Fizemos de tudo para preservar a perna da criança. Mas, quando percebemos que o quadro poderia evoluir para uma infecção generalizada, decidimos amputar o membro inferior do menino para salvar a vida dele”, disse o médico.
O Ministério Público da Saúde em Paranaguá foi acionado pela família e está investigando o caso. De acordo com informações do órgão, deve ser instaurado um procedimento administrativo e criminal com o objetivo de apurar eventual responsabilidade dos envolvidos e a Promotoria promete tomar as providências cabíveis para que o caso seja devidamente apurado.
Reincidência
O deputado estadual e presidente da Comissão Permanente da Saúde da Assembleia Legislativa do Paraná, Leonaldo Paranhos relatou na CPI do SUS, no início de dezembro, um caso semelhante ocorrido também no Hospital Regional de Paranaguá. “É inadmissível um hospital deste porte cometer o mesmo erro. Há seis meses, o menino Túlio Guimarães sofreu uma fratura exposta e seu braço foi apenas engessado. Dois dias depois, com muita dor, ele voltou ao hospital e quando o gesso foi retirado, o braço já estava necrosado”, afirma Paranhos. A comissão entrou em contato com a família e está tomando as medidas legais.
Sandra Terena, correspondente
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