Susana Trimarco, que cirou uma fundação para ajudar
vítimas de quadrilhas de prostituição, busca Marita desde abril de 2002 na
Argentina.
Susana Trimarco com foto da filha Marita
(Foto:
Arquivo pessoal)
Na busca pela filha sequestrada há dez anos, uma
ex-funcionária pública argentina criou uma fundação que ajuda vítimas de
quadrilhas de prostituição, estimulou o surgimento de uma lei nacional contra a
exploração sexual de mulheres na Argentina e virou tema de novela.
'Eu era uma mulher que vivia entre o trabalho numa
repartição pública, um pequeno comércio e a família. Mas, desde o sequestro da
minha filha, em abril de 2002, passei a lutar para localizá-la e acabei
ajudando outras mulheres', disse à BBC Brasil Susana Trimarco, de 57 anos.
Seu drama inspirou o enredo da novela 'Vidas Roubadas',
na emissora Telefe, em 2008.
Desde fevereiro deste ano, 13 acusados pelo sequestro de
sua filha estão sendo julgados na Argentina, numa maratona judicial ainda sem
data para terminar.
Susana afirmou que não passa um dia sequer sem perseguir
seu objetivo: localizar a filha, María de los Angeles Verón, conhecida como
Marita Verón, que tinha 23 e uma filha, Micaela, de três anos, quando foi
levada em uma rua na cidade de San Miguel de Tucumán, no noroeste da Argentina.
Nestes dez anos, contou Susana, seu marido, pai de
Marita, morreu de depressão diante da falta de informações sobre o paradeiro da
filha.
E Micaela, que agora tem 13 anos, passou a ajudar a avó
na fundação.
Cafetina
Na sua peregrinação para tentar encontrar a filha, Susana se fez passar por
cafetina, visitou prostíbulos do interior argentino e ajudou mulheres a fugir
do cativeiro.
'Foram estas mesmas mulheres que me contaram que viram
minha filha e me disseram que ela teria ficado grávida de um dos seus
sequestradores. Hoje, peço às autoridades que também localizem esse bebê, que é
meu neto', afirmou.
Ela disse que, naquele abril de 2002, moradores de
Tucumán viram quando Marita foi sequestrada, no caminho de casa para um
hospital para uma consulta médica.
'Testemunhas viram quando um carro parou e (seus
ocupantes) a agarraram a força e a levaram', contou. Segundo Susana, Marita foi
vista viva pela última vez em 2008.
A mãe acusa uma vizinha, enfermeira do hospital - que
teria convencido a vítima a fazer uma consulta médica -, policiais e políticos
locais de envolvimento no caso.
'Mãe coragem'
Susana fez as denúncias diante dos acusados que estão no banco dos réus - e por
sua luta passou a ser chamada de 'mãe coragem'.
Na busca por Marita e a partir de denúncias de Susana, a
polícia passou a realizar batidas em bordéis e acabou libertando, inclusive,
menores de idade, segundo a imprensa local.
'Às vezes, após o sequestro (as mulheres) são levadas
para uma espécie de lugar de seleção e treinamento e depois para os
prostíbulos', afirmou Germán Diaz, advogado da Fundação Maria de los Ángeles.
Segundo Susana Trimarco, sua fundação já ajudou cerca de
800 mulheres que, após localizadas, foram devolvidas às suas famílias ou
passaram a ter ajuda judicial, psicológica e social para que possam criar os
filhos que tiveram no 'cativeiro' e voltar ao mercado de trabalho.
Hoje, a fundação está vinculada ao Ministério da Justiça
da Argentina e recebe ajuda internacional de países como Estados Unidos e
Canadá.
'A luta desta mãe (Susana) estimulou a criação, em 2008,
da lei contra a exploração (sexual) de pessoas e a assistência a estas
vítimas', disse à BBC Brasil a assessoria do Ministério da Justiça argentino.
Por sua trajetória, a ex-funcionária pública recebeu um
prêmio do governo dos Estados Unidos, em 2007, e nesta semana arrumava as malas
para embarcar ao Canadá, onde também será premiada.
'Nesta semana pedimos ajuda ao Ministério das Relações
Exteriores (argentino) para repatriar uma jovem aqui (da província) de Tucumán
que estava desaparecida desde o ano passado e foi localizada no Peru, onde teve
um filho de um dos seus sequestradores', conta Susana. 'Essa jovem não tinha
documentos. Ela estava em estado de choque, como ocorre com muitas jovens, e
vai precisar de ajuda para voltar a ter uma vida normal.'
Sobre a contínua busca por sua filha, Susana diz que sua
motivação é 'a certeza de que ela está viva e de que minha neta merece voltar a
conviver com a mãe. Isso me dá coragem e não me permite desistir, jamais, desta
batalha'.
Da BBC