Zenaide Muneton é uma das babás mais bem pagas de NY, diz agência.
Ela recebe salários equivalentes a mais de R$ 27 mil por mês.
A babá brasileira Zenaide Muneton, com duas crianças de quem cuidava em Nova York
(Foto: Reprodução/Arquivo pessoal)
A paulistana Zenaide Muneton passou a última semana sendo entrevistada
por celebridades e famílias milionárias dos Estados Unidos. Durante o processo
de seleção para trabalhar como babá dos filhos de algumas das pessoas mais
ricas e famosas do país, é ela quem vai definir quem vai contratá-la. Mesmo
assim, há uma forte disputa pela chance de pagar a ela um salário equivalente a
mais de R$ 27 mil por mês por seus serviços.
“Quero encontrar uma família legal, com ótimas crianças e com quem
possa viajar”, disse Zenaide em entrevista ao G1, por telefone,
em meio ao processo de “seleção” do seu próximo empregador. “Sou eu que escolho
com quem vou trabalhar, e já falei com um monte de gente conhecida”, disse. O
relato dela é confirmado por Seth Greenberg, vice-presidente da agência
Pavillion, que é referência em encontrar empregados para as famílias mais ricas
de Nova York e que representa Zenaide. “Desde que a conheci, percebi que ela
tinha potencial de ser uma das melhores babás de todos os tempos”, disse
Greenberg ao G1. Segundo ele, Zenaide é uma das babás mais bem
pagas dos Estados Unidos, chegando a cobrar mais de US$ 180 mil por ano (o equivalente
a R$ 27 mil por mês), mais benefícios.
O diferencial dela, dizem Greenberg e a própria babá, é a
identificação com as crianças. "Elas a adoram, ficam encantadas por
ela", disse o agente. Segundo a babá, as principais características de uma
boa babá nos EUA devem ser inglês perfeito, paciência, gostar e ser boa com
crianças, flexibilidade para viajar e mudar planos, saber ler historinhas,
saber nadar e ter sempre uma mala pronta com brinquedos, remédios e comidas
para as crianças. Ela recomenda ainda que os pais que procuram babás prestem
atenção à experiência e às referências das babás entrevistadas, que busquem
documentos e históricos policiais da candidata e que prefira babás com formação
universitária em áreas que ajudem a entender as crianças.
A brasileira foi a principal entrevistada de uma reportagem
publicada nesta semana pelo “New York Times” e pela rádio NPR a respeito dos
altos valores pagos por babás de filhos dos moradores mais ricos de Nova York.
Segundo as publicações, o mercado de babás de luxo não foi afetado pela crise
econômica nos EUA, e as famílias pagam entre US$ 50 mil e US$ 200 mil
(equivalente a salários mensais de R$ 7,5 mil e R$ 30 mil) por uma funcionária
qualificada, experiente e com boas referências. “Há uma demanda imensa por
empregados com aptidão e experiência. Quando somos procurados por babás com
experiência e referências, é fácil encontrar emprego para elas”, disse
Greenberg. Em São Paulo, o salário médio de uma babá é de R$ 1.300 por mês,
segundo agências da cidade, quase um sexto do salário mais baixo pago às babás
da agência americana.
Babá de celebridades
Zenaide ficou disponível para ser contratada recentemente, depois de trabalhar
por seis anos cuidando dos filhos de um dos principais apresentadores de
programas noturnos da TV norte-americana. “Não posso falar o nome dos meus
empregadores, pois são pessoas que não querem ter a intimidade exposta”, diz,
permitindo apenas pequenas dicas sobre seu currículo.Após duas décadas nos EUA,
ela teve a experiência de trabalhar com cineastas australianos, de cuidar dos
filhos do ator de uma das séries de mistério e ficção científica mais populares
de todos os tempos (sempre que ele ia “buscar a verdade lá fora”). Trabalhou
ainda com a família do protagonista de um dos filmes de maior bilheteria de
2004, sobre uma famosa guerra travada na antiguidade no território atual da
Turquia.
Além de conviver com as celebridades e suas famílias, Zenaide
trabalha em um sistema de dedicação total a seus empregadores, o que faz com
que ela viaje pelo mundo, conheça outras pessoas do mundo do entretenimento e
visite locações de filmagens junto com os atores com quem trabalha. Isso tudo,
ela diz, sem que ela ao menos assista TV com frequência. “Nem conhecia o
pessoal com quem ia trabalhar antes de ser contratada”, diz.
Zenaide diz ainda que as celebridades com quem trabalha são
totalmente "pés no chão", sem afetações e sempre muito ligadas a seus
filhos. Uma atriz que a contratou na Califórnia, ela conta, chegou a parar de
trabalhar por um tempo para poder se dedicar totalmente a cuidar dos filhos (o
que fez com que Zenaide fosse dispensada).
Em vez de prestar atenção na fama dos empregadores, Zenaide diz
que se preocupa mesmo é com as crianças de que vai cuidar. “Adoro ser ‘nanny’
(babá). É um trabalho muito bacana e eu adoro crianças e sua sinceridade”,
disse. Aos 49 anos, casada e sem filhos, ela diz que se acostumou a esta vida e
que gosta muito dela, diz, sem ter planos de parar de trabalhar.
Começo difícil
Apesar de estar no topo da lista de babás mais bem pagas, Zenaide conta que o
início na profissão não foi algo planejado ou fácil. "Eu nunca tinha
pensado em ser babá, nem planejava ir embora do Brasil”, contou. "No
começo foi muito difícil conseguir trabalho como babá porque eu não tinha experiência
nem referência de empregos anteriores. Tive muita dificuldade em encontrar meu
primeiro trabalho", disse.
Segundo Greenberg, da agência de empregos, é muito difícil
encontrar uma colocação para uma babá sem experiência, e as referências
anteriores são essenciais para “valorizar” o salário da profissional. A agência
Pavillion recebe “milhares” de ofertas de babás procurando famílias e faz uma
seleção das que vai representar, ele explicou. “Temos muito cuidado, pois
apresentamos as babás às famílias e somos responsáveis por esta indicação”,
disse. Segundo comparação feita na reportagem publicada na NPR, a seleção da
Pavillion é mais rigorosa de que a feita para entrar na Universidade Harvard.
Zenaide viajou pela primeira vez aos Estados Unidos em 1990, a
passeio, e acabou não voltando mais. O primeiro emprego dela como babá, na
Carolina do Sul, apareceu por indicação de uma americana que trabalhava com a
família e que Zenaide conheceu no Brasil. Foi esta americana que, depois do
confisco das cadernetas de poupança pelo governo de Fernando Collor, recomendou
que ela ficasse nos Estados Unidos e “nunca mais colocasse o dinheiro no
Brasil”.
Começou ganhando US$ 100 por semana. Depois de um ano, seguiu para
uma temporada de seis meses trabalhando na Áustria, e voltou aos EUA para
procurar trabalho na Califórnia, "onde sabia que as babás ganhavam
bem", conta. Foi quando procurou uma agência de empregos pela primeira
vez, e conseguiu ser contratada.
Pobreza e riqueza
Filha de um casal de pernambucanos - seu pai era guarda noturno no Edifício
Itália, no Centro de São Paulo, e sua mãe merendeira – Zenaide é a mais nova de
seis irmãos e cresceu em uma família em que faltava dinheiro. "Fui criada
numa vida simples. A gente era pobre, eu não tinha dinheiro nem para um pão
doce, mas não chegava a faltar nada em casa", conta.
Quando tinha seis anos, sua irmã ganhou um curso de inglês.
"Eram LPs com aulas que ensinavam a falar o idioma", contou. Sua irmã
nunca tocou na coleção, mas Zenaide achou interessante, começou a ouvir
repetidas vezes até decorar algumas lições, que recita até hoje. "Quando
comecei a estudar inglês na escola, abri a boca e a professora quase caiu de
susto. Sempre me dei muito bem com o idioma", diz. Este contato com a
língua inglesa fez com que ela conseguisse ser promovida em seu emprego em uma
multinacional, permitindo que ela juntasse dinheiro suficiente para viajar a
passeio para os EUA, em 1990.
Depois de se estabelecer na Califórnia trabalhando como babá e
ganhando pouco, Zenaide conseguiu, através de um anúncio no jornal, mudar de
emprego e passou a ganhar US$ 650 por semana. Foi quando conseguiu guardar uma
parte do dinheiro, e diz que a primeira coisa que fez com o acumulado foi
comprar uma casa para sua mãe. "Comprei um sobrado para ela em São Paulo
por US$ 20 mil. Hoje a casa vale R$ 340 mil", disse.
Dali por diante foi vendo sua situação financeira melhorar. Foi
contratada por um casal de cineastas, que passaram a pagar US$ 20 por hora
trabalhada (resultando em mais de US$ 1 mil por semana). Fez outros trabalhos
mais esporádicos e, na primeira metade da década de 2000, já ganhava US$ 85 mil
por ano (cerca de R$ 13 mil por mês), até que se mudou para Nova York e passou
ao salário de US$ 180 mil por ano.
Além de comprar a casa em que a mãe vive em São Paulo até hoje,
Zenaide conta que já ajudou muito os irmãos. Ela também investiu em imóveis
próprios nos Estados Unidos e no Brasil. Ela agora escolhe com que família vai
trabalhar nos próximos anos, e depois não pretende parar, mas diz que seu objetivo
principal é fugir dos invernos. “Quero sempre viajar para onde estiver fazendo
calor.”
Por Daniel Buarque