Nunes disse que audiência era usar 'miséria alheia' para
atacar PSDB.
Petista pediu que o tucano 'tivesse a dignidade' de ouvir testemunhas.
O senador Pedro Simon (PMDB-RS), que presidiu
a audiência da Comissão de Direitos Humanos
sobre o Pinheirinho (Geraldo Magela/Ag.Senado)
O senador
Eduardo Suplicy (PT-SP) se exaltou nesta quinta-feira (23) após a recusa do
senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) em participar de audiência pública na Comissão
de Direitos Humanos sobre a desocupação da área conhecida como Pinheirinho.
Cerca de 1,5 mil famílias foram retiradas de suas casas no final de janeiro
pela Polícia Militar de São Paulo e pela Guarda Municipal de São José dos
Campos (SP) após autorização judicial.
Nunes
afirmou que não participaria da audiência, requisitada por Suplicy, por
considerar que se tratava de um "instrumento" de ataque ao PSDB.
"A audiência é um instrumento político de interesse do PT, do senador
Eduardo Suplicy e de pseudo-revolucionários que se utilizam da miséria alheia
para promover suas propostas", afirmou o tucano.
O senador
petista, então, pediu a palavra e, batendo com as mãos na mesa, afirmou que tem
evidências de que houve violência durante a operação da Polícia Militar de
retirada dos moradores do Pinheirinho.
"Queira o senador Aloysio Nunes ter a dignidade de ver esses filmes
demonstrando a violência ocorrida! E vem aqui ele me dizer que funcionárias
minhas fizeram declarações, elas foram testemunhas da barbaridade ocorrida. É
importante que ele possa ouvir!", gritou Suplicy.
Nunes
respondeu à manifestação do petista dizendo que "não se intimida" com
gritos. "Eu não me intimido com os gritos do senador Suplicy. Não me
impressiona. Nem de vossa excelência nem de ninguém", disse o parlamentar
do PSDB.
O senador
Pedro Simon (PMDB-RS), que presidia a Comissão de Direitos Humanos, tentou
encerrar a discussão. "Mas é a primeira vez que ele [Suplicy] grita. Ele
passa dois anos falando baixinho", ponderou. Diante da ausência dos
principais convidados a participar da audiência e da recusa de Aloysio Nunes em
permanecer na comissão, Simon sugeriu adiar a reunião e permitir que o tucano
também selecione convidados.
Os
senadores decidiram ouvir os líderes comunitários presentes à reunião e
continuar a audiência do Pinheirinho com convidados escolhidos por Nunes.
Inicialmente, foi prevista que a audiência fosse retomada na próxima
segunda-feira (23). Os senadores, porém, optaram para 4 de março, com mais
tempo para convidar outras pessoas.
Nunes
defendia que a audiência fosse ampliada, para debater ações violentas da PM em
outros estados, não somente no Pinheirinho. Ele e Suplicy aceitaram a proposta
de Simon e se cumprimentaram sob aplausos, dando fim à discussão.
"Pedro
Simon, dado seu espírito de respeitabilidade na presidência da comissão, quero
cumprimentar o senador Aloysio Nunes numa saudação de respeito", afirmou
Suplicy, antes de dar a mão a Nunes.
Pinheirinho
No dia 25 de janeiro foi encerrada a operação da Polícia Militar de
reintegração de posse do Pinheirinho. Cerca de 1,5 mil famílias foram retiradas
de suas casas. O terreno de mais de 1 milhão de metros quadrados foi invadido
há oito anos e pertence à massa falida de uma empresa do investidor Naji Nahas.
Várias denúncias de violência por parte da PM foram feitas após a desocupação.
Suplicy chegou a relatar na tribuna do Senado suposto abuso sexual cometido por
policiais militares.
O tucano propôs debater o assunto na Comissão de Direitos Humanos do Senado. O
requerimento de audiência pública foi aprovado pela comissão e a reunião foi
marcada para esta quinta (23). Foram convidados a prestar esclarecimentos o
prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, a secretária de Justiça de São
Paulo, Eloisa Arruda, e o presidente do Tribunal de Justiça do estado, Ivan
Sartori.
Também foram convidados a comparecer à audiência da Comissão de Direitos
Humanos a secretária Nacional de Habitação, Inês Magalhães, o secretário de
Habitação do Estado de São Paulo, Silvio Torres, o juiz da 18ª Vara Cívil da
Comarca de São Paulo, Luiz Beetoven Giffoni, o juiz Rodrigo Capez, que
acompanhou a desocupação como representante do TJ-SP, a juíza da 6ª Vara Cívil
de São José dos Campos, Márcia Loureiro, que determinou a desocupação, o
promotor de Justiça João Marcos da Paiva, que conduziu os depoimentos sobre
abusos de autoridade.
Foram chamados ainda o advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos,
Marcelo Menezes, o líder comunitário Antônio Ferreira, o vereador de São José
dos Campos Tonhão Dutra, o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, Álvaro
Batista Camilo, além de vítimas que tenham prestado depoimento à promotoria
sobre a ação da Polícia Militar.
Nenhuma autoridade envolvida na ação da PM compareceu nesta quinta (23) à
Comissão de Direitos Humanos. Apenas o líder comunitário Antonio Ferreira veio
a Brasília relatar a violência que diz ter sofrido durante a desocupação. A secretária
Nacional de Habitação, Inês Magalhães, também compareceu à audiência.
Por Nathalia
Passarinho | G1