Campanha pelo animal começou em fevereiro no
Ceará e foi aceita pela Fifa, mas biólogo alerta e faz apelo por recursos:
espécie pode desaparecer
O 'Tolypeutes tricinctus': espécie é 100% brasileira e corre risco de
extinção (Foto: Arte esporte)
Em pouco mais de um mês de campanha, o tatu-bola
desbancou a onça, o jacaré e a arara e foi eleito pela Fifa como mascote da
Copa do Mundo de 2014. A ideia de ter o "Tolypeutes
tricinctus" como símbolo do Mundial do Brasil surgiu no Ceará e foi
apresentada apenas em fevereiro ao Ministério do Esporte e ao Comitê
Organizador Local (COL). Idealizadora do projeto, a ONG Associação Caatinga
agora sonha alto: espera que a escolha represente um "legado
ecológico" para o país, já que o animal corre risco de extinção.
Secretário executivo da Associação Caatinga, o
biólogo Rodrigo Castro foi o responsável por lançar a "candidatura"
do tatu-bola para 2014. A campanha começou na internet em 2 de fevereiro, pelas
redes sociais, e no dia 29 do mesmo mês um dossiê foi entregue a representantes
do Ministério do Esporte durante seminário da Copa em Fortaleza. Em pouco
tempo, a ideia ganhou a simpatia da Fifa e está perto de virar realidade: falta
apenas o registro da marca pela entidade para o animal ser confirmado em
outubro como mascote do Mundial.
Campanha da Associação
Caatinga, que registrou ideia de tatu-bola como mascote (Foto: Divulgação)
Eufórico com a notícia, Rodrigo disse ter
"caído da cadeira" ao saber pelo GLOBOESPORTE.COM que o tatu-bola
havia sido escolhido. Apesar da alegria, o biólogo fez um alerta: a espécie,
100% brasileira, está em extinção e o país precisa de investimentos para evitar
o desaparecimento do "Tolypeutes tricinctus", que está presente
em pequeno número nas regiões de caatinga e cerrado (norte de Minas Gerais,
todos os estados do Nordeste, Tocantins, Piauí, Goiás e Mato Grosso).
- A espécie vive uma situação crítica. Ela vai ser
mascote da Copa, mas em 10 anos pode acabar. Com um evento dessa magnitude, se
parte dos recursos fossem destinados para proteger o tatu-bola seria
maravilhoso. Essa escolha de mascote poderia abrir um precedente no Brasil, a
Copa deixar também um legado de consciência ambiental, de compromisso, investimento.
Não só para o tatu, mas para projetos de preservação da caatinga e do cerrado,
onde ele vive. Se o tatu-bola realmente for oficializado como mascote, isso
poderia deixar um legado ecológico, não só de infraestrutura e mobilidade
urbana - disse o biólogo, que culpa a caça, o desmatamento e as queimadas pelo
desaparecimento crescente da espécie.
uando se sente ameaçado, o tatu-bola tem a
habilidade de curvar-se sobre si mesmo para se proteger, ficando no formato de
uma bola. Essa característica será aproveitada pela agência de publicidade
contratada pela Fifa, que já tem produzido vídeos e animações com o animal (a
cor predominante do bicho será o verde). O nome do mascote deverá ser escolhido
por votação pela internet e mensagens de celular.
Segundo Rodrigo, a ideia de lançar o tatu-bola como
candidato a mascote surgiu no início do ano em uma reunião na Associação
Caatinga, em Fortaleza. A ONG planejava publicar um livro com imagens de
animais da região, quando um membro viu a foto do "Tolypeutes tricinctus"
e lembrou que a Copa ainda não tinha um animal como símbolo e fez a
associação com a capacidade de "virar" bola. O projeto evoluiu,
ganhou o apoio do comitê cearense do Mundial e passou a ser divulgado em meios
de comunicação.
- Nós nos sentimos fazendo parte da Copa. A ideia
não era ser um boneco ou uma figura de cartoon, sem desmerecer isso, mas sim
animal da biodiversidade brasileira. Essa era a maior luta - lembrou.
Um dos incentivadores do projeto foi o deputado
estadual Daniel Oliveira, presidente do Comitê de Acompanhamento das Ações
Relativas à Copa do Mundo de 2014 da Assembleia Legislativa do Ceará. Ele e
Rodrigo registraram "Tatu-bola mascote da Copa do Mundo 2014" em um
cartório de notas de Fortaleza e o domínio virtual no nome da Associação Caatinga
para garantir que a ideia havia surgido na ONG.
- A campanha apareceu em jornais, rádios e
televisão aqui no Ceará. A coisa foi crescendo e ganhou ainda mais corpo nas
redes sociais. Registramos a ideia para não ter problemas. Se isso realmente for
confirmado é uma vitória dos nordestinos e do povo do Ceará. É um animal bem
parecido com uma bola. Isso retrata o Brasil. Ele está quase em extinção e
também ajuda a propagar a importância da defesa desse animal - disse o
deputado.
Por Márcio Iannacca e Thiago Dias