Eleonora Menicucci substitui Iriny Lopes na Secretaria
das Mulheres.
Ela foi aplaudida de pé ao mencionar 'os que tombaram durante a ditadura'.
A presidente Dilma dá posse a ministra Eleonora
Menicucci (Foto: Roberto Stuckert / Presidência)
A nova
ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, lembrou
em seu discurso de posse o período da ditadura militar quando ficou presa na
mesma cela em que a presidente Dilma Rousseff no presídio Tiradentes, em São Paulo.
Ambas era militantes de esquerda.
Professora
titular de saúde pública na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo),
Eleonora foi escolhida para substituir Iriny Lopes, que sai do governo para
disputar pelo PT, na eleição deste ano, a Prefeitura de Vitória (ES).
"Nossas
trajetórias, presidenta Dilma, [...] se entrelaçaram quando ainda jovens
éramos. Fomos presas, torturadas, vivemos na mesma cela. Tivemos um engajamento
que nos ensinou a lidar com as adversidades e a nunca nos omitir diante das
situações", disse Eleonora do discurso de posse.
Ela
contou que foi abraçada por Dilma quando chegou à prisão. "Quando cheguei
ao presídio Tiradentes a senhora me abraçou com afeto."
Quase ao
final do discurso, a ministra foi aplaudida em pé ao homenagear os "jovens
que tombaram durante a luta contra a ditadura". Após citar os nomes de
colegas que morreram durante a ditadura militar, a ministra afirmou: “Lutar e
viver com dignidade vale a pena.”
Lei Maria
da Penha
A nova ministra também comentou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que,
nesta quinta-feira (9), autorizou o Ministério Público a denunciar o agressor
nos casos de violência doméstica contra a mulher, mesmo que a vítima não
apresente queixa contra quem a agrediu.
"Hoje,
a noção de que não se pode bater em mulher está amplamente assimilada. [...]
Ontem, a vitória no STF representou um marco histórico na vida das mulheres brasileiras."
Eleonora
disse que "não se pode aceitar que ainda hoje as mulheres sejam objeto de
qualquer forma de violência, que sejam estupradas e assassinadas por seus
próprios companheiros".
Aborto
Ao ser indicada para assumir o comando da Secretaria de Política para Mulheres,
Eleonora - que já teria defendido o aborto em tempos passados - disse, em
entrevista coletiva, que o aborto "é uma questão de saúde pública".
No discurso de posse, ela não falou objetivamente sobre legalização do aborto,
mas defendeu que as mulheres não podem ter "seus direitos reprodutivos e
sexuais desrespeitados."
Disse
ainda que é preciso ampliar as políticas de segurança, da saúde e da Justiça
"tornando o atendimento e o serviço mais acessíveis, céleres e respeitosos
com as mulheres".
"Não
se pode aceitar ainda hoje, quando temos uma mulher no mais alto cargo do Executivo
brasileiro e outras tantas mulheres em posição de decisão, que mulheres sejam
vistas como meros objetos sexuais."
Mercado
de trabalho
Eleonora Menicucci disse ainda que dará "atenção especial" às
trabalhadoras domésticas e que vai trabalhar para retirar as mulheres da
miséria.
A
ministra disse também que as mulheres que trabalham têm hoje uma
"responsabilidade" desproporcional em relação aos homens. "É
necessário não desprezar que na divisão sexual do trabalho as mulheres
permanecem com uma responsabilidade árdua, desproporcional."
Eleonora
defendeu "mudanças relativas à remuneração, segurança sexual, acesso
saúde, partilha das responsabilidades e busca da paridade nesse processo."
Perfil
A nova ministra Eleonora Menicucci é graduada em ciências sociais pela
Universidade Federal de Minas Gerais, mestre em sociologia pela Universidade
Federal da Paraíba e doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo
(USP).
Na USP,
Eleonora também obteve o título de livre docente em saúde coletiva. Fez pós-doutorado
em saúde e trabalho das mulheres na Facultá de Medicina della Universitá Degli
Studi Di Milano, na Itália.
Na
Unifesp, é professora titular em saúde coletiva e atua principalmente com os
temas direitos reprodutivos e sexuais, saúde integral da mulher,
envelhecimento, violência de gênero, aborto, direitos humanos, autonomia,
avaliação qualitativa e políticas públicas de saúde.
É filiada
ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas, segundo informou a SPM, não participa
do dia-a-dia do partido. Natural de Lavras, Minas Gerais, tem 68 anos, é
divorciada, tem dois filhos – Maria, de 42 anos, e Gustavo, de 37 – e três
netos - Stella, João e Gregório.
Segundo
assessoria, a nova ministra “cultiva a imagem de pesquisadora feminista com
visão política independente”.
Ex-ministra
Iriny Lopes, que deixou o cargo, agradeceu em discurso à presidente Dilma
Rousseff por pertencer "ao primeiro escalão de um governo que dá
prosseguimento a um projeto que muda a face do país".
"Agradeço
a confiança, agradeço a sustentação, agradeço a maneira com que eu fui
convidada e recebida no seu governo, a maneira como a presidente me convenceu a
aceitar dizendo que nem todos os desafios ainda nos foram colocados. [...] Foi
isso que me deu força e coragem para aceitar esse desafio”, disse.
Por Nathalia Passarinho e Priscilla Mendes|Globo.com