Aparelhos começam a
dividir a atenção dos alunos com apostilas impressas. Nova tecnologia deve ser
introduzida com cautela
Professor do Colégio Positivo seleciona simuladores
de Física no seu tablet:
novas possibilidades de ensino com o uso da
tecnologia em sala de aula
Eles invadiram as casas, os escritórios e
agora também as salas de aula. Os tablets, computadores portáteis em formato de
prancheta sensíveis ao toque, cheios de recursos audiovisuais e com acesso à
internet, já estão sendo utilizados por escolas para aprimorar o ensino
tradicional e ganhar a atenção dos alunos – cada vez mais conectados e
fascinados com o mundo virtual.
A aposta nos aparelhos é tão grande que alguns
colégios de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília já começam a
exigi-los na lista de material escolar, inclusive com a abolição das apostilas.
Em Curitiba, colégios particulares como Positivo e Dom Bosco não chegaram a
tanto, mas já se valem do aparelho em grande parte de suas atividades do ensino
médio.
No Colégio Dom Bosco foram distribuídos 637
tablets pelo projeto Dom Digital, iniciado em 2010 com a entrega de notebooks a
alunos do ensino médio. Em 2011 foram adotados os tablets, mais funcionais e
fáceis de manusear e carregar. Na opinião do diretor-geral do grupo, Durval
Antunes Filho, o recurso veio para ficar. “Ou você se moderniza, ou está fadado
ao insucesso. Hoje o aluno quer informação rápida, e você precisa dotar o
professor de recursos para que ele acompanhe essa nova era.” Os alunos levam o
equipamento para casa.
No Colégio Positivo, os tablets são
distribuídos aos alunos do 1.º e do 2.° ano do ensino médio. Na Sede Ângelo
Sampaio, 220 alunos que cursam o ensino integral utilizam o equipamento durante
as atividades pedagógicas. “As aulas ficam mais divertidas. Acho que o tablet vai
estar cada vez mais presente em sala de aula”, diz o estudante do 2.º ano do
colégio Alexandre Slaviero. O tablet é utilizado principalmente em aulas de
Física e Matemática, que exigem muitos conceitos abstratos e cálculos. Ao final
das aulas, os alunos devolvem os aparelhos.
Desafios
Antes de introduzir o tablet em sala de aula,
a professora da Universidade Federal do Paraná Gláucia da Silva Brito,
especialista no uso de tecnologias no ensino, lembra que a escola precisa se
planejar para não desperdiçar oportunidades. A familiaridade dos alunos com os
recursos disponíveis pode ser tanto uma forma de prender a atenção para um
conteúdo mais interessante quanto um motivo de dispersão e consequente perda de
controle por parte dos professores.
Nos dois colégios, os professores monitoram
constantemente o conteúdo acessado e a visita a redes sociais e sites alheios à
aula é bloqueada. Especialistas, no entanto, afirmam que o processo exige menos
repressão e mais planejamento, pois até as redes sociais como Facebook e
microblogs como Twitter podem ser úteis no processo de aprendizado.
“É preciso se perguntar: como eu posso
utilizar essa ferramenta para dar uma aula de Português, de Matemática ou de
Física? Em quais atividades? Por quanto tempo? Antes de tudo, é preciso dominar
o conteúdo e saber dar aula. É o conteúdo que vai fazer a diferença”, diz
Gláucia, que defende o uso de tecnologia em sala de aula. “Os professores têm
de ser professores de seu tempo.”
Professor precisa estar capacitado
Como a tecnologia dos tablets ainda é nova –
os primeiros modelos surgiram em 2010 –, ainda há dúvidas por parte dos
professores a respeito do potencial do equipamento em sala de aula. Para a
coordenadora do curso de pós-graduação em Educomunicação da FAE Business
School, Regina Luque, o principal obstáculo é a capacitação de professores, que
muitas vezes não têm familiaridade com as tecnologias da informação e educação
como um todo.
Sem a formação, diz a professora,
desperdiça-se a oportunidade de aproximar o aluno do conteúdo através de uma
ferramenta que ele domina e aprecia. “É algo semelhante ao que houve com a
introdução do vídeo em sala de aula. O professor passa um filme, mas não sabe
como utilizá-lo para ensinar a matéria. O equipamento vira apenas uma fonte de
entretenimento e não de conhecimento.”
Com o papel do professor subestimado, corre-se
o risco de que o processo seja uma mera migração do papel para a tela. “Não
adianta somente substituir. É necessário ter um diferencial”, diz o diretor do
Colégio Positivo Ângelo Sampaio, Celso Hartmann. “O professor tem de ser
crítico, ter um papel ativo e ser constantemente treinado.”
Ao matricularem os filhos num colégio com essa
proposta, os pais devem analisar sempre se o professor está capacitado – se
consegue tirar dúvidas e possui um planejamento disponível – e se a escola lhe
dá apoio para se aperfeiçoar. “O professor deve dominar tanto a parte técnica
quanto a pedagógica. Deve saber usar o equipamento como usuário e também como
professor”, diz Regina Luque.
Aprendizado passa por mudanças
Familiarizados com a tecnologia, os estudantes
têm aprovado o uso dos tablets em sala de aula, embora ainda prefiram ler e
escrever no modo tradicional. Nos colégios Positivo e Dom Bosco, que distribuem
o aparelho para os alunos do ensino médio, a tecnologia é utilizada
principalmente para a resolução de exercícios e nas aulas que exigem pesquisas
de textos, como História e Língua Portuguesa.
Disciplinas consideradas “áridas”, como
Física, ficaram mais interessantes e menos abstratas com a adoção de
simuladores e vídeos.
Numa aula sobre velocidade, por exemplo, é
possível inserir dados e observar um carro realizar diferentes movimentos em
tempo real. “O aluno não apenas imagina, ele também projeta e interage com os
conceitos”, diz o professor de Física do Positivo Jackson Milani.
É comum que o professor primeiro use os
simuladores para depois explicar a matéria, o que faz com que os alunos
observem o fenômeno antes de conhecer sua definição, muitas vezes abstrata
quando explicada sem exemplos concretos. “A prática vem antes da teoria. Eles
ficam fascinados”, diz Milani.
Um diferencial em relação ao computador é
poder levar o equipamento para aulas ao ar livre, o que auxilia em lições sobre
botânica, por exemplo. Também é possível pesquisar dados e responder a
exercícios sem a necessidade de ir ao laboratório de informática ou esperar a
aula acabar para iniciar as tarefas de casa.
“Com essa mudança, acredito que o modo de
aprender vai passar por uma grande transformação. Aliás, essa transformação já
está ocorrendo. Notamos que a participação e o interesse estão maiores”, diz o
professor de Física e coordenador do Projeto Dom Digital, Raphael Corrêa.
Por Vanessa Prateano

Nenhum comentário:
Postar um comentário