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domingo, 4 de março de 2012

Um dia e uma noite na primeira UPP do Paraná

A reportagem da Gazeta do Povo acompanhou durante 24 horas o cotidiano das 12 vilas do Bairro Uberaba que foram ocupadas, à revelia da comunidade, por centenas de policiais


Os 23 mil moradores de um dos extremos do Uberaba, em Curitiba, começaram a última quinta-feira sob cerco policial. Olhos acesos de curiosidade viam pelas janelas dos ônibus as luzes do giroflex na principal via de acesso à Vila Reno. O mesmo se dava em outras duas artérias do conjunto de 12 vilas que naquele instante estavam sendo ocupadas pela Polícia Militar e pela Guarda Municipal. Houve quem receasse a repetição da chacina de 2009. Não era o caso. Os moradores tardariam a descobrir que o governo do estado simplesmente não avisou que, naquele dia, colocaria em prática o projeto piloto da primeira Unidade Paraná Seguro (UPS), versão local das UPPs cariocas.

Albari Rosa/ Gazeta do Povo / A presença de homens da Polícia Militar e da Guarda Municipal, com pistolas e fuzis, não alterou a rotina de orações da Congregação Cristã no Brasil
 A presença de homens da Polícia Militar e da Guarda Municipal, com pistolas e fuzis, 
não alterou a rotina de orações da Congregação Cristã no Brasil
Uma população surpresa com uma quantidade jamais vista de policiais no bairro e uma rotina inalterada por causa disso foi o que encontrou a reportagem da Gazeta do Povo, que acompanhou o cotidiano das vilas do Uberaba durante 24 horas, das 19 horas de quinta-feira até as 19 horas de sexta. Apesar dos cerca de 200 policiais e guardas municipais que circulavam pelas ruas e vielas, as igrejas seguiram seus cultos normalmente, as famílias não deixaram de sair à noite e os amigos continuaram a beber sua pinga ou cerveja nos botecos. A maioria da população, salvo algumas lideranças comunitárias, nem sequer sabia o que estava se passando.

Uma das apostas da cartilha da segurança pública no Rio de Janeiro e meta do Paraná para diminuir a violência no estado, a aproximação com a comunidade não foi colocada em prática logo na primeira das UPSs. Avisar a população sobre a ocupação e conversar com os líderes comunitários são pontos fundamentais para o sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro e regra de toda filosofia do policiamento comunitário. 

Para Edna Paixão da Silva dos Santos, 43 anos, uma das líderes comunitárias mais conhecidas na região da Vila Icaraí, a ação iniciada na quinta-feira poderia ter colocado em risco a população. Segundo ela, seus filhos, ao ouvirem o barulho das sirenes, correram para rua, como de costume. “Quando acordei, ouvi o barulho. As crianças correram para rua para ver tudo. Poderia ter ocorrido qualquer tiroteio. É preciso avisar a gente”, afirma.

Segundo a assessoria de imprensa do governo, a operação que iniciou a implantação da primeira UPS do estado não foi informada aos líderes comunitários porque se trata de projeto piloto. De acordo com o governo, nenhuma ação policial é antecipada à população. Mesmo contrariando a filosofia do policiamento comunitário, o governo ressaltou que a ação no Uberaba não causou constrangimentos a ninguém. 

Na avaliação de um comerciante ouvido pela reportagem, a abordagem pode até não ter causado constrangimento, mas não foi eficiente. “Desse jeito não vão prender ninguém. Os caras [traficantes] estavam hoje mesmo [sexta-feira de manhã] andando na rua aí em frente”.

Mesmo com o lapso governista, Edna elogia a ação. “Os policiais precisam continuar aqui. Além disso, temos de ter mais lazer, esporte, educação, limpeza dos bairros. Aqui há muito matagal, terreno abandonado”, conta. O medo de Edna é um reflexo de quem já viu uma das suas filhas quase ser sequestrada duas vezes no ponto do ônibus. “Tentaram levá-la, mas o motorista do ônibus ajudou e deu tudo certo”, relata.




Por Mauri König, Diego Ribeiro e Felippe Aníbal  

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