O Brasil caminha para políticas mais complexas do que a
simples transferência de renda e o próximo alvo, com o pacote social a ser
lançado no final de semana pelo governo, será a primeira infância, que sofre
duas vezes mais com a pobreza do que a média dos brasileiros.
Há um ano e meio
trabalhando no plano que a presidente Dilma Rousseff anunciará em
pronunciamento no domingo, o subsecretário de Ações Estratégicas da
Presidência, Ricardo Paes de Barros, argumenta que atender a faixa populacional
que mais sofre com a pobreza -crianças de até 6 anos- representa uma enorme economia
para o país no médio e longo prazo.
Segundo os dados da
secretaria, a extrema pobreza no Brasil atinge 8 por cento da população, mas
chega a 16 por cento entre crianças nesta faixa etária.
"No Brasil você tem
uma desigualdade intergeracional em que os idosos são muito pouco pobres e as
crianças são muito pobres", disse à Reuters Paes de Barros, doutor em
economia e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Entre as razões está o
fato de o país ter construído um sistema previdenciário que garante a todos os
idosos um salário mínimo. Já as famílias com crianças nesta faixa etária em
geral estão entrando no mercado de trabalho, são mais vulneráveis ou têm maior
número de filhos.
Trasferência de Renda
"Quando você olha
para o benefício do Bolsa Família (de até 306 reais), ele é pequeno se
comparado ao salário mínimo (hoje em 622 reais), que é o benefício recebido
pelo idoso no Brasil... Por isso, é preciso mais transferência de renda para
crianças pequenas", afirmou ele, citando o que deve ser um dos pontos
fortes do novo programa.
"O momento do ciclo
de uma família em que ela é mais vulnerável é quando ela tem uma criança",
completou.
O programa para a primeira
infância, segundo Paes de Barros, é possível porque o Bolsa Família e o Brasil
Sem Miséria já "pavimentaram o caminho". Ao mesmo tempo, é bastante
mais complexo, porque envolve auxiliar famílias a garantir boas condições de
desenvolvimento das crianças e ter médicos e assistentes de saúde disponíveis.
O pacote incluirá
atendimento à gestantes, recém-nascidos e pais, auxílio para complementação
nutricional e creches que permitam que a mãe possa se integrar no mercado de
trabalho.
"Uma das formas de
resolver o problema da pobreza é permitir que mães jovens possam
trabalhar", disse.
Nesta área, além de
planejar a construção de novas creches -Dilma prometeu na campanha 6 mil novas
unidades até 2014-, o governo quer garantir, por meio de convênios com as
prefeituras, vagas para crianças pobres em creches privadas.
"Você vai pegar as
creches que já tem e dar um incentivo para elas receberem crianças
pobres", disse.
Segundo Paes de Barros,
apenas 20 por cento das crianças entre zero e 3 anos estão em creches. Entre
crianças pobres, o índice não ultrapassa 4 por cento. "Precisamos dobrar
estes números", disse.
Por Ana Flor | Reportagem adicional de Alonso Soto
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