Reajuste de 4% está abaixo da inflação no
período, mas passagem ainda está 58% acima do índice se considerado o valor
desde 1994
Reajuste da tarifa passa a valer já na
segunda-feira:
revisão anual prevista em contrato e aumento salarial dos
motoristas e
cobradores pesaram no valor final
Quem utiliza o transporte coletivo de Curitiba
e região metropolitana vai ter de pagar mais caro pela passagem a partir da
zero hora da próxima segunda-feira. A tarifa de R$ 2,50 passa a ser de R$ 2,60
para as linhas que compõem a Rede Integrada de Transporte (RIT). O reajuste é
consequência do aumento salarial dos motoristas e cobradores e da revisão anual
prevista em contrato.
Aos domingos, a passagem continua custando R$
1, valor que é mantido desde 2005. Já a Linha Turismo passa a custar R$ 27,
ante os R$ 25 que eram cobrados, e a linha Circular Centro passa de R$ 1,50
para R$ 1,60.
O reajuste de 4% está um pouco abaixo da
inflação nos últimos 12 meses, que é de 5,63%, considerando o INPC de janeiro.
Entretanto, levando em conta a série histórica, o custo do ônibus subiu 58%
acima da inflação desde o início do Plano Real, em 1994, de acordo com dados do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Já a tarifa técnica, que leva em conta o custo
por quilometragem do sistema e o número de passageiros atendidos, saltou de R$
2,56 para quase R$ 2,79. De acordo com o diretor de transportes da Urbs,
Antônio Carlos Pereira de Araújo, o reajuste atual foi o menor possível,
considerando o aumento nos vencimentos dos motoristas e cobradores.
Para Sandro Silva, economista do Dieese, a
discussão sobre o aumento da tarifa não pode se restringir ao valor do
reajuste. “Precisa haver uma revisão da metodologia de cálculo e uma
atualização dos coeficientes técnicos de consumo, porque o que ocorre é que não
há uma padronização de procedimento de atualização desses valores”, questiona.
Números preocupantes
Além das tarifas, a Urbs divulgou novos dados
sobre a Rede Integrada de Transportes (RIT). Alguns números preocupam: houve
uma leve queda no número de passageiros transportados pela RIT, de 25,8 milhões
para 25,7 milhões por mês. Esse número parece pequeno, mas se considerarmos que
o número de habitantes em Curitiba cresceu no período, a proporção de
passageiros em relação à população total da cidade caiu ainda mais.
Esse processo precisa ser revertido para
evitar um rombo nas contas da Urbs. A atual diferença de quase R$ 0,19 entre a
tarifa técnica e a passagem significaria uma diferença de R$ 58,8 milhões entre
o que a Urbs arrecada com passagens e o que ela repassa para as
concessionárias.
Inicialmente, essa diferença seria coberta no
próprio fluxo de caixa da Urbs, especialmente através da venda de passagens
antecipadas, explica Araújo. Entretanto, ele considera que, com o passar do
ano, o número de passageiros no sistema deve subir, já que a passagem, apesar
de mais cara, pesará menos no bolso do trabalhador – uma vez que os salários
tendem a acompanhar o valor da inflação.
Caso essa previsão não se confirme,
entretanto, a Urbs sinaliza que pode pedir recursos da prefeitura e do governo
do estado, contratantes, respectivamente, das linhas urbanas e metropolitanas.
Além disso, Araújo afirma que existem estudos para arranjar formas de
arrecadação alternativas para baratear o preço da passagem, como a instalação
de televisões com material publicitário nos ônibus. Porém, ainda não se sabe
qual o impacto dessas medidas nas tarifas.
Urbs repassa valor maior às empresas
A tarifa técnica é o valor que a Urbs repassa
às empresas de ônibus. Grosso modo, para cada passageiro pagante que entra em
um ônibus, a Urbs repassa esse valor à empresa responsável. Enquanto o
passageiro paga R$ 2,60, são repassados R$ 2,79 à empresa – como ela é
remunerada por quilômetro rodado, trata-se de uma previsão dos pagamentos de
passagens, e não das passagens em si. Logo, uma das maneiras de manter o caixa
da Urbs equilibrado é aproximando esses dois valores. A diferença de R$ 0,19
entre as duas tarifas significa um rombo de pelo menos R$ 58,8 milhões nas
contas da Urbs por ano.
Além do reajuste, outras possibilidades de
aproximação dos valores chegaram a ser ventiladas nos dias que sucederam o
aumento dos motoristas. Uma delas seria a revisão do cálculo da tarifa para os
ônibus metropolitanos, que são mais custosos do que os que circulam apenas no
município de Curitiba. O governo do estado poderia bancar do próprio erário a
diferença de custo entre as linhas urbanas e metropolitanas, evitando um aumento
e mantendo as contas da Urbs equilibradas. A ideia, entretanto, não prosperou.
Segundo o governo do estado, existe um grupo
de trabalho formado para discutir maneiras de tornar o transporte coletivo mais
barato nas grandes cidades do Paraná, mas os estudos ainda estão acontecendo e
nenhuma ideia ainda está desenvolvida o suficiente para ser apresentada. Além
disso, não houve qualquer negociação com as prefeituras envolvidas.
Como funciona
A tarifa técnica é a divisão do custo da frota
pelo número de passageiros pagantes. Primeiro, são calculados os valores gastos
para manter a frota rodando. Esse valor é dividido pelo número de quilômetros
rodados pela frota mensalmente – o chamado custo por quilômetro, que chegou
agora a R$ 5,68. Esse valor é dividido pelo índice de passageiros por
quilômetro (IPK), que corresponde à média mensal de passageiros pagantes
dividida pela quilometragem da frota. Atualmente, esse índice é de 2,03.
Dividindo-se os dois números, chega-se à tarifa técnica.
Por Chico Marés e
Fernanda Trisotto

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