Ricardo Teixeira
abafa grupo insurgente, mas disse que vai fazer exames nos próximos dias, o
primeiro nesta quinta, que vão determinar a gravidade de sua condição
Ricardo Teixeira sai pela garagem da CBF para evitar
jornalistas.
Dirigente ficou sete horas no gabinete e saiu sem falar
publicamente sobre o momento crítico
A continuidade de
Ricardo Teixeira à frente da Confederação Brasileira de Futebol foi homologada
ontem por unanimidade entre os 27 presidentes das federações filiadas à
entidade. Mas a chama “rebelde” segue acesa em busca de mudança na CBF.
O dirigente admitiu
que poderá se licenciar do cargo – que ocupa desde 1989 – ainda neste mês, mas
hoje fará exames médicos e dependendo dos resultados poderá adiantar o plano.
Ele sofre de uma diverticulite (inflamação na parede do cólon, ligado ao
intestino grosso). Na terça-feira, teve de interromper uma série de reuniões
com os presidentes de federações, pois passou mal.
Durante a
assembleia dessa quarta-feira, o homem-forte da CBF foi bajulado pela maioria
dos representantes estaduais. No fim do encontro, os “Ricardistas” bradavam o
fim da ala oposicionista. Mas, pelas costas, o encontro foi classificado por
insatisfeitos como “uma manobra” para abafar um possível motim.
Esperava-se que
Teixeira desse explicações sobre as denúncias de corrupção, assim como mudar
parte do estatuto da organização. Mas teria ficado devendo. “Foi água com
açúcar”, definiu, por telefone, um presidente de federação à Gazeta do Povo,
que pediu sigilo em seu nome.
Ao fim do encontro,
foi combinado que apenas o dirigente da Federação Carioca, Rubens Lopes,
falaria oficialmente. “Mas não ocorreu nada de importante que não pudesse
esperar a assembleia geral ordinária, que está marcada para abril”, afirmou
outra fonte. Ficou proibido, por exemplo, de a CBF contribuir com entidades
sociais e em campanhas eleitorais.
A assembleia
extraordinária terminou assim como uma forma de anular articulação dos
insurgentes. Com receio de uma tomada paulista na entidade, esses queriam
garantir nova eleição em caso de abandono do cargo.
Mas o grupo formado
por Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia, entre
outros, viu frustrado os objetivos. A nova convocação mudou o foco da conversa.
E a discussão pedida virou uma explicação apontando para a necessidade de se
seguir as normas em vigor.
“Não há como se
afastar dos dispositivos estatutários e, na ausência temporária, assume o
exercício aquele que for assim designado pelo presidente. No caso de uma
vacância do cargo, assume o vice mais idoso. É ponto pacífico, não há
discussão, está no estatuto desde 2006”, revelou o porta voz do encontro,
Rubens Lopes. “O presidente fica, então não há nada a se discutir. A CBF errou,
por não nos dar explicações, e nós também nos precipitamos”, afirmou Francisco
Noveletto, presidente da Federação Gaúcha.
Teria partido dos
dois dirigentes a mobilização para evitar que, no caso de queda de Teixeira, o
paulista José Maria Marín, o vice-presidente com mais idade na CBF, assumisse o
cargo. Em caso de afastamento temporário, o vice que assumirá poderá ser
escolhido pelo atual presidente.
Com estes
acontecimentos, foi ventilada a possibilidade de que houvesse um acordo para
que Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney, e também vice
da CBF, pudesse assumir o cargo. Seria uma saída intermediária.
Mas, embora os
boatos sobre a renúncia de Teixeira tivessem ganhado força novamente, no
próprio edital de convocação o dirigente havia dado a entender que ficaria.
Ricardo Teixeira
não falou publicamente. Saiu pela garagem da sede da CBF, escapando dos
repórteres. Também não viu um pequeno protesto, com poucos torcedores empunhado
faixas pedindo sua saída.
Carne, uísque e
“mimo” animam a véspera da assembleia-geral
Agência Estado
Aos poucos, os
presidentes de federações estaduais se acomodavam em uma ala reservada da
churrascaria Porcão, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. A noite avançava na
terça-feira, véspera da assembleia da CBF, e os dirigentes se dividiam, como se
articulassem uma posição mais clara para o evento convocado pelo presidente da
entidade, Ricardo Teixeira.
A entidade hospedou
os presidentes no Hotel Transamérica, próximo ao restaurante, e ofereceu
transporte para a estada no Rio. Um funcionário da CBF organizava as caravanas.
Refrigerantes pontuavam o início da confraternização. Mas, depois das 23 horas,
chope e uísque prevaleciam.
O presidente da
Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury, tentava serenamente desmentir
informações de que estaria sendo cooptado por Rio Grande do Sul e Rio de
Janeiro para compor uma chapa na eventualidade de afastamento de Teixeira. Ele
explicava que recorreu às duas federações recentemente para evitar o leilão da
sede da entidade e também do Estádio Pinheirão. “Liguei para o Novelletto
[Francisco, presidente da Federação Gaúcha] e contei que precisava de R$ 500
mil. Na mesma hora ele me disse: ‘Amanhã o dinheiro vai estar na sua conta’”.
Cury só não sabia
da surpresa que o aguardava na hora do pagamento. Faltavam R$ 200 mil para
cobrir a parcela. “Aí liguei para o Rubinho [Rubens Lopes, da Federação
Carioca] e ele me disse o mesmo. Nada de juros”. Cury atribuía a pessoas mal
intencionadas, próximas a Teixeira, os boatos de que teriam comprado seu voto.
Em uma das rodas,
um dirigente de federação chamou a reportagem para fazer uma revelação. “Várias
federações estão recebendo presentes de 100 mil reais”. Quem estaria oferecendo
o dinheiro? “Não preciso dizer, você tire sua conclusão”, respondeu. Mas qual o
objetivo? “Apagar foco de incêndio pela disputa do poder na CBF.”
Os presidentes, 17
ao todo, ao voltarem ao hotel, avistaram no salão Pedro Bial, apresentador do
Big Brother Brasil. “Vamos botar a paulistada no paredão”, disse um. Referia-se
a José Maria Marin, vice da CBF, e Marco Polo Del Nero, presidente da Federação
Paulista, possíveis candidatos ao trono que seguiu ocupado.
Por Marcio Reinecken

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