Paraná começa a desenvolver redes para melhorar a vida dos
catadores de lixo. Há iniciativas em Foz do Iguaçu, Londrina e Pinhais
Se cooperativas de catadores de material reciclado
se associarem a uma rede,
o lucro mensal aumenta de 20% para 40% porque
acaba com figura do atravessador
Eliminar a figura do atravessador, fortalecer a categoria dos catadores de
materiais recicláveis, aumentar o lucro de suas famílias e erradicar o trabalho
infantil. Com objetivos bem claros, as redes de cooperativas e de associações
surgem da necessidade de aperfeiçoamento do trabalho diário de buscar nas ruas
da cidade o lixo que pode ser reciclado e sustentar famílias.
Ainda iniciante
no assunto, o Paraná conta hoje com uma dessas redes em implantação em Foz do
Iguaçu, outra em Londrina e uma em construção em Pinhais, na Região
Metropolitana de Curitiba (RMC). Além dessas, organizações do Litoral e da
própria RMC compõem a primeira rede de empreendimentos de catadores voltada
para a logística reversa, a Rede Carta Paraná.
A procuradora do trabalho e coordenadora do Fórum Estadual Lixo e
Cidadania, Margaret Matos de Carvalho, defende a criação de redes de
cooperativas como essas. “São de extrema importância, considerando a
fragilidade dessas organizações”, afirma. Segunda ela, o estado só não tem um
número maior de redes devido à falta de organização da categoria.
Segundo os registros da Procuradoria Regional do Trabalho, cerca de cem
cooperativas e associações estão localizadas no Paraná: 60 só na RMC. Criadas a
partir de 2001 por uma necessidade do mercado de materiais recicláveis, as
cooperativas garantem um lucro de 20% a 30% maior do que ganhariam os catadores
se não fossem cooperados. Com a implantação de uma rede de cooperativas, esse
valor pode subir para 40% ou mais.
Custos
Coordenador da Rede Carta Paraná, Carlos Alencastro Cavalcanti conta
que a venda direta à indústria (feita pelas redes) elimina custos do processo,
o que um catador sozinho não tem condições de conseguir. “Essa faixa de lucro
que ficava pelo caminho fará parte da renda do catador”, assegura Cavalcanti.
A Carta Paraná é formada por 30 cooperativas e associações e envolve
cerca de 3 mil famílias. Cada uma recebe de acordo com o volume de material
reciclável coletado. Em uma dessas cooperativas, a Catamare, são 50 famílias de
diversas regiões de Curitiba que chegam a ganhar R$ 700 por mês, além do
pagamento do INSS, uma garantia que o catador que não é cooperado não dispõe.
É o caso de Lia Oliveira, de 39 anos, que trabalha com material
reciclável desde os 10 anos. “Minha roupa, meu brinquedo, tudo era do lixo”
lembra a catadora, que sustenta uma casa com seis pessoas com o que ela e a
filha de 22 anos ganham na cooperativa. Cooperada há cinco anos, Lia fala que o
que lucrava com a venda para depósitos particulares não dava para pagar suas
contas. “Se aqui dá R$ 40 lá [no depósito] dava só R$ 15.”
Com menos idade e experiência, porém o mesmo empenho, Cleiton Rodrigues
Elias divide o barracão da cooperativa com Lia há 4 meses. Com 22 anos, Cleiton
veio a pé e de bicicleta do Piauí, estado onde nasceu e que carrega no apelido.
Sua primeira morada foi a Casa dos Pobres São João Batista, no Rebouças, de
onde um dia saiu para procurar emprego e encontrou a cooperativa. “Só sei que
hoje estou aqui”, fala o rapaz, que em poucos dias com o que ganhou na
cooperativa conseguiu alugar um quarto para morar.
Convivência
Lucros e experiências precisam ser compartilhados
Está em processo de formação na região de Curitiba a Coopersol,
cooperativa solidária de reciclagem que conta com instituições de Almirante
Tamandaré, Piraquara e dos bairros da capital paranaense Fazendinha e Bairro
Novo. São cinco associações que constituem uma rede. Segundo a educadora
popular do Projeto Mutirão e do Cefuria Magda Mascarello, a rede de
cooperativas deve trabalhar com dois objetivos: a comercialização dos materiais
sem um atravessador; e a socialização, que permitirá um maior conhecimento de leis,
projetos e ações do Ministério Público voltadas a esses trabalhadores. “A
discussão já acontece na Coopersol. Percebemos um processo de solidariedade
entre os grupos por não terem acesso à moradia e creche”, conta.
Por
Ellen Miecoanskia
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