Acesse o nosso site

Acesse Nosso Site http://www.curitibocas.com.br

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Notas geram suspeita sobre investigações na Câmara

Vereadores que deveriam apurar irregularidades nos contratos de publicidade da Casa tiveram relação com empresas e funcionários que receberam verba de propaganda

Os vereadores responsáveis por investigar denúncias de irregularidades nos contratos de publicidade da Câmara Municipal de Curitiba tiveram relação com empresas ou funcionários que prestaram serviço de propaganda para a Casa. Francisco Garcez (PSDB), que presidiu o processo contra o ex-presidente João Cláudio Derosso (PSDB) no Conselho de Ética, era sócio de um jornal que recebeu dinheiro da Câmara. Já um funcionário de Emerson Prado (PSDB), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), prestava serviços gráficos para o Legislativo.

Tanto a CPI quanto a investigação no Conselho de Ética terminaram sem responsabilizar os envolvidos (veja mais na cronologia). Apesar de analisarem os mesmos documentos aos quais a reportagem da Gazeta do Povo e da RPC TV teve acesso, vereadores afirmaram não ter encontrado indício de irregularidades. 

Durante três meses, a reportagem analisou documentos referentes a menos de 10% dos quase R$ 34 milhões gastos pela Câmara para a execução do contrato de publicidade. A documentação revela que o jornal de Garcez recebeu pelo menos R$ 31,5 mil. Já a empresa que pertence a um ex-funcionário do gabinete de Prado recebeu pelo menos R$ 3 mil. 

Fora da lei
Além de levantar suspeitas sobre a independência e a lisura do trabalho de apuração feito na Câmara, o fato de servidores públicos e até vereadores terem recebido dinheiro do Legislativo é uma afronta à legislação. A Lei de Licitações proíbe que funcionários da instituição pública que promove a licitação participem, direta ou indiretamente, da execução do contrato o que inclui também as subcontratações de serviços. 

O esquema ilegal para direcionar dinheiro da Câmara para empresas ligadas aos vereadores e funcionários foi possível através da licitação aberta por Derosso para a contratação de agências a um custo anual de R$ 5,2 milhões. Apenas as duas empresas vencedoras disputaram o certame: a Visão Publicidade, antiga prestadora de serviço da Câmara, e a Oficina da Notícia, cuja dona é Cláudia Queiroz – mulher de Derosso. Os contratos se estenderam por cinco anos.
Notas
Após ganhar a licitação, a Visão e a Oficina subcontrataram várias empresas, entre elas a de Garcez e a do funcionário de Prado, para prestação de serviço. Para conseguir receber pelo trabalho feito, a Folha do Boqueirão emitiu ao menos nove notas fiscais nos anos de 2010 e 2011. As notas apresentadas no ano passado revelam uma coincidência: num mesmo dia, 12 de abril, a Folha do Boqueirão emitiu quatro notas em sequência, de R$ 3,5 mil cada.

Garcez disse à reportagem que se licenciou da sociedade do jornal em 2009, quando assumiu o mandato. No entanto, a alteração contratual que formaliza o desligamento do vereador da sociedade da Folha do Boqueirão só foi registrada na Junta Comercial em setembro do ano passado dois meses depois que o escândalo dos contratos de publicidade da Câmara veio à tona. 

Gabinete
No caso de Emerson Pra­­do, a empresa que recebeu dinheiro para publicidade não pertence a ele, mas é de um comissionado que estava lotado no gabinete dele na Câmara. A Donato Artes Gráficas está em nome de Gilson Donato Coraiolla, que foi funcionário de Prado em dois períodos: de novembro de 2009 a setembro de 2010 e de março de 2011 até fevereiro de 2012. 

Embora Prado afirme desconhecer a atividade comercial de seu funcionário (leia texto ao lado), é possível contratar serviços gráficos no gabinete do vereador. Nilzete Bitencourt, ex-mulher de Gilson, é funcionária de Prado desde 2009 e não evita falar de negócios dentro da Câmara. 

A reportagem procurou Nilzete, dizendo que uma empresa precisava de material gráfico. “Eu terceirizo [o trabalho de impressão]”, disse ela, sem saber que estava sendo filmada. De dentro do gabinete, ela negociou um orçamento. Nilzete afirmou que faria uma cotação de preços para a confecção de cartões com várias gráficas e sugeriu que fosse enviado um e-mail com o pedido para o endereço eletrônico dela no Legislativo. “Acho que tudo dá uns R$ 240. Amanhã eu já passo o orçamento para você.”



Por Karlos Kohlbach, Katia Brembatti, Gabriel Tabatcheik e James Alberti

Nenhum comentário:

Postar um comentário