Paraguai começa remoção de 7,5 mil sem-terra de fazenda de soja.
Acampado denuncia corrupção no movimento

Governo destinou 31 veículos para o transporte dos
sem-terra até o Parque de Ñacunday.
Retirada deve ser concluída até
quarta-feira
Os 7,5 mil sem-terra paraguaios acampados há quase um mês numa extensão
de oito quilômetros sobre as propriedades do grupo do produtor de soja
brasileiro Tranquilo Favero começaram ontem a desocupação pacífica das terras
no município de Ñacunday, a 85 quilômetros de Foz do Iguaçu, no Oeste do
Paraná. A transferência para uma área de 400 hectares do Parque Nacional de
Ñacunday teve de ser adiada no sábado por causa da chuva e da dificuldade de se
transitar nas estradas de terra.
A desocupação foi decidida em negociações com representantes do governo.
A última conversa aconteceu sábado no acampamento. O governador de San Pedro,
José “Pakova” Ledesma, chegou com 19 caminhões das Forças Armadas e cinco da
Polícia Nacional. Outros sete veículos do Ministério de Obras que seriam usados
no transporte dos sem-terra aguardavam uma trégua do mau tempo.
Representando o presidente Fernando Lugo, Ledesma garantiu aos sem-terra
que a transferência é uma medida temporária, até que a Justiça com auxílio do
Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural e da Terra avalie uma
suposta apropriação ilegal de 70 mil hectares hoje explorados pelo Grupo
Favero. “É preciso que vocês permaneçam unidos porque a luta será longa e
dividida em várias partes”, disse em apoio aos ‘carperos’, como são chamados os
sem-terra que vivem em carpas e barracas. A mudança para o parque deve ser
concluída até quarta-feira.
Oficiais do Exército disseram que estavam no local para organizar a
transferência não com o objetivo de cumprir uma ordem judicial de reintegração
de posse, mas uma determinação do governo a pedido dos ‘carperos’. “Agora
estamos bem próximos de conseguir o que há tempos estamos reivindicando e que
sabemos ser de nosso direito. No Parque [Nacional de Ñacunday] estaremos bem
melhor que aqui e logo o governo prometeu dividir as terras, construir nossas
casas e ajudar quem quer plantar”, disse o líder dos sem-terra, Victoriano
López.
Por enquanto, garantiu López, apenas um terço dos sem-terra montará
acampamento na área. “Os outros vão aguardar uma nova liberação de terras por
parte do governo”, comentou lembrando que a região abriga uma área de quase 168
mil hectares nos estados de Alto Paraná e Itapúa que teriam sido invadidas
ilegalmente por estrangeiros, em especial brasileiros, ainda em 1890.
Irregularidades
“O discurso do Victoriano [López] é de legalidade e de direitos. Na
verdade muitas pessoas que vieram para cá estão sendo usadas e não é para
conseguir terra”, denuncia um carpero. “Para ficar no acampamento, cada
família tem que pagar R$ 50 por semana. Muitos venderam casa, carro e o que
tinham para poder ficar aqui, sem garantia nenhuma. Mas, se alguém reclama, ele
diz: ‘se não está contente, vá embora’. Estão se aproveitando para ganhar
dinheiro.”
Para um dos advogados do Grupo Favero, Guillermo Duarte, a remoção não
resolve a situação, já que a reserva para onde os sem-terra foram transferidos
fica dentro da área reivindicada e é vizinha às propriedades do grupo. Duarte
comentou ainda que apesar de o presidente Lugo garantir que fará o possível
para evitar confrontos entre brasileiros e paraguaios, medições judiciais que
estavam suspensas serão retomadas nos próximos dias. O impasse se acirrou
justamente quando o governo determinou que o Exército fizesse marcações na área
em conflito.
Por Fabiula Wurmeister
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