Nome forte do futebol brasileiro há 23 anos, Ricardo
Teixeira renunciou à presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e
do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014.
O anúncio foi feito em carta enviada à entidade que
lidera o futebol brasileiro divulgada nesta segunda-feira, e vem em um momento
de atritos entre governo e Fifa sobre os preparativos do Brasil para sediar a
Copa do Mundo de 2014.
"Deixo definitivamente a presidência da CBF com a
sensação de dever cumprido", escreveu Teixeira, de 64 anos, em carta lida
por José Maria Marin, ex-vice-presidente da confederação para a Região Sudeste,
que assumira temporariamente a entidade com a licença de Teixeira anunciada na
quinta-feira e agora passa a chefiar oficialmente a CBF até 2015.
"Presidir paixões não é uma tarefa fácil em nosso
país. Futebol é associado a duas imagens: talento e desorganização. Quando
ganhamos exaltam o talento, quando perdemos, a desorganização. Fiz o que estava
ao meu alcance, renunciei à saúde. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado
nas vitórias", acrescentou Teixeira, que assumiu o cargo em 1989.
Marin ficará no comando da CBF, em princípio, até o fim
do mandato atual em 2015. O dirigente, de 79 anos, também presidirá o Comitê
Organizador Local (COL) da Copa de 2014.
A renúncia de Teixeira foi comemorada pelo ex-jogador
Romário, que se tornou desafeto do agora ex-dirigente desde que assumiu uma
cadeira de deputado pelo PSB do Rio de Janeiro.
"Hoje podemos comemorar. Exterminamos um câncer do
futebol brasileiro. Finalmente, Ricardo Teixeira renunciou à presidência da
CBF", disse o ex-jogador em sua conta no site de relacionamento Facebook.
O ex-jogador, campeão mundial com a seleção em 1994,
aproveitou para alfinetar Marin, lembrando o episódio em que foi flagrado
colocando no bolso uma medalha durante a cerimônia de premiação da Copa São
Paulo de Futebol Júnior, vencida pelo Corinthians.
"Espero que o novo presidente... o que furtou a
medalha do jogador do Corinthians na Copa São Paulo de Juniores, não faça
daquele ato uma constante na confederação. Senão, teremos que exterminar a Aids
também."
Pelo estatuto da entidade, em caso de licença por tempo
determinado, Teixeira poderia escolher um dos cinco vice-presidentes regionais
da entidade. Mas, em caso de vacância permanente, o estatuto determina que o
vice presidente mais velho assuma, no caso Marin.
Marin, no entanto, está longe de ser unanimidade entre as
federações estaduais, o que pode levar à convocação de eleições para a escolha
de um novo presidente da entidade.
Em sua primeira entrevista coletiva como presidente da
CBF, Marin, que governou São Paulo por 10 meses no início dos anos 1980 durante
o Regime Militar, prometeu dar continuidade ao trabalho de Teixeira à frente da
CBF e revelou que rejeitou um pedido de demissão coletiva de todos os diretores
da CBF após a renúncia de Teixeira.
"Vou dar continuidade a uma gestão respeitada em
todo o mundo. Se eles são da confiança de Ricardo Teixeira, são da minha
confiança também e pedi que continuassem", disse.
O novo chefe da CBF e do COL também minimizou o episódio
das medalhas na final da Copa São Paulo. "Foi uma cortesia da FPF
(Federação Paulista de Futebol). Isso é uma verdadeira piada", disse.
O Ministério do Esporte divulgou nota curta sobre a troca
de comando na CBF. No comunicado, o titular da pasta, Aldo Rebelo, se limita a
dizer que o ministério segue comprometido em trabalhar em conjunto com o COL
para a realização da Copa.
"Seguiremos trabalhando em harmonia para o êxito das
tarefas comuns necessárias ao sucesso do evento", afirma a nota do
ministério.
Lateral-esquerdo da seleção nas Copas de 1982 e 1986,
Júnior comentou a saída de Teixeira e disse esperar que os clubes sejam mais
valorizados na nova gestão da entidade. "Os clubes neste período ficaram
mais enfraquecidos porque faltou uma tutela da CBF", afirmou ele à
Reuters.
Por
Rodrigo Viga Gaier
© Thomson Reuters 2012 All rights reserved.
Nenhum comentário:
Postar um comentário